Portugal não é um bom exemplo para uma tendência que começa a desenhar-se em vários países da Europa: partidos que, até há pouco tempo, estruturavam o poder governativo entraram numa crise que não conseguem reverter.
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Nesse espaço de ocaso, foram aparecendo movimentos nacionalistas que têm conquistado uma crescente adesão dos cidadãos. O nosso país tem ficado à margem deste novo desenho partidário que ameaça, nos próximos meses, acentuar-se. Visitemos algumas geografias que confirmam amplamente esta temível leitura.
Reino Unido. Por estes dias, os trabalhistas precipitaram a liderança de Jeremy Corbyn numa profunda crise. No início da semana, sete deputados desfiliaram-se, acusando o líder do partido de seguir uma agenda marxista, defender o antissemitismo e não ter qualquer estratégia em relação ao Brexit. Não se pense, porém, que esta gente se tresmalhou, sem delinear qualquer caminho. Nada disso. Saíram do partido onde militavam há muitos anos e onde foram ocupando cargos de relevo para formarem aquilo que designam como Grupo Independente. Que já recebeu mais três deputadas do Partido Conservador. Nas várias declarações que têm feito aos média britânicos, afirmam-se a favor da continuação do Reino Unido na União Europeia e defendem a realização de um segundo referendo. Inicialmente, Theresa May, que se debate com uma permanente oposição do seu partido, até pode ter ficado satisfeita com este sismo à Esquerda, mas seria aconselhável a primeira-ministra britânica ser prudente nos seus estados de alma, porque aqui pode estar um embrião de um movimento que subtrairá votos também a si. Na edição de ontem, a revista britânica "NewStatesman" escrevia que os trabalhistas viraram muito à Esquerda e os conservadores optaram por rumar muito para a Direita. E essa opção deixou muitos britânicos órfãos. E é nesse vazio que este tipo de movimentos ganha força. A revista "The Spectator" preenche a capa da edição desta semana com o Grupo Independente, anunciando que, neste momento, os seus membros estão no centro do palco político.
Em Espanha, Pedro Sánchez marcou eleições gerais para 28 de abril, mas o diário "El País" já anunciou que Bruxelas teme um cenário idêntico àquele que se desenhou em Itália onde a extrema-direita se instalou sem grande dificuldade no poder. Neste contexto, pondera-se seriamente a força do Vox, o partido de extrema-direita que tem conquistado cada vez mais espaço e pode, nas próximas eleições, levar a uma opção de Governo muito diferente daquela que hoje os partidos tradicionais almejam.
Em França, o presidente francês procura espaço para respirar. As sondagens que antecipam os resultados das eleições europeias começam a prever a vitória de Marine Le Pen, a líder da União Nacional. Emmanuel Macron está preocupado com a adesão dos franceses à (sua) República em Marcha. Porque há danos que custarão a curar. O maior deles é certamente os protestos dos "coletes amarelos" que encostaram Macron a uma fação privilegiada da população, acusando-o de esquecer o país que vive em dificuldade. Por estes dias, intensificam-se reuniões no Eliseu com vista à realização de um grande debate nacional que colocará no centro das conversas temas diversos, trazendo para as discussões o cidadão comum. Percebem-se bem as razões desta tática eleitoral... Sublinhe-se que falamos aqui de movimentos que se afastaram dos partidos tradicionais que hoje em França (sobre)vivem em agonia.
Portugal permanece à margem destes novos ventos. É certo que o Aliança começa a ter uma certa visibilidade e movimentos como Democracia 21 ou Chega vão procurando ganhar espaço. No entanto, os partidos tradicionais ainda não atingiram a fase de esgotamento. Esperemos que a saibam evitar.
* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO