Quem diz pior de André Ventura? Este é o "vírus" que tem contagiado os debates televisivos entre os sete candidatos à Presidência da República. Mesmo quando o líder do Chega não é parte ativa no confronto, a sua omnipresença sobressai.
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Isso foi particularmente evidente no frente a frente entre Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Gomes. A representante de um PS órfão de candidato próprio lançou a casca de banana e o presidente em exercício escorregou. Saíram ambos a perder pelo simples facto de gastarem um tempo considerável a falar de alguém que não apreciam.
José Moreno, investigador do ISCTE e um dos responsáveis pelo barómetro Presidenciais 2021 nas redes sociais, constatou já que André Ventura lidera nas interações no Facebook e no Twitter, sendo em simultâneo o candidato que mais gera interações e tráfego para os seus adversários. Em síntese, fala-se dele por tudo e por nada.
Esta promoção enviesada de André Ventura pode virar-se contra os seus detratores. Não é difícil imaginar que o líder do Chega olhe para este cenário a cantarolar uma música brasileira cujo início é o seguinte: "Fale bem ou fale mal. Mas fale de mim. Eu não tenho culpa se você não é feliz (...)".
A sua subida em várias sondagens é indesmentível e o efeito dos debates televisivos ainda não está ali refletido.
E qual é o mérito próprio de André Ventura? Responde, por exemplo, às ansiedades de uma faixa da população prejudicada pela globalização e livre circulação de pessoas. A solidariedade leva ao acolhimento de imigrantes, gerando-se um pânico identitário de cariz nacionalista. Os partidos tradicionais têm uma resposta hesitante a problemas concretos, tais como a perda de empregos para estrangeiros, os critérios discutíveis para atribuição de subsídios ou as reivindicações das forças de segurança. Nascem então os políticos start-up, eventualmente com pés de barro.
*Editor-executivo-adjunto