<p>Saber ganhar e saber perder são virtudes que nem todos alcançam, e que há muito tinham caído em desuso no PSD. Nesse sentido, é de louvar a decisão de Passos Coelho de convidar os seus opositores nas recentes eleições no PSD para cargos importantes na sua estrutura, opção de indiscutível mérito, já que ao ter obtido mais de 60 por cento dos votos nas "directas", podia muito bem ter querido afastar quem lhe fez frente.</p>
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Ao contrário do que fez Ferreira Leite, com os resultados que se conhecem, o novo líder esforça-se, deste modo, por conseguir a união dos militantes e a pacificação do partido. Sem oposição interna, o PSD poderá dedicar-se, por fim, e depois de um período de grande turbulência, a trilhar o seu caminho. Mérito tem também Aguiar-Branco, que presidirá à comissão encarregada de rever o programa do partido, e principalmente Paulo Rangel, que aceitou encabeçar a lista ao Conselho Nacional, garantindo que a distribuição de lugares neste órgão é proporcional aos resultados eleitorais das directas.
É cedo para se saber se esta união de facto, que desaponta todos aqueles que dentro e fora do PSD esperavam que Rangel e Aguiar-Branco optassem por patrocinar facções, acabará com a oposição interna e com as guerrilhas suicidárias que têm devastado o maior partido da Oposição, e o têm arredado da governação. Também é cedo para saber se, para além das boas intenções e das palavras de circunstância, Passos Coelho conseguirá motivar os muitos apoiantes de Rangel e os barões que apadrinharam Aguiar-Branco a concentrarem as suas energias nas lutas políticas que se avizinham. Os mais encarniçados apoiantes de Ferreira Leite, como é o caso de Pacheco Pereira, já deram sinais de que não vão, sequer, respeitar a tradicional trégua à qual os vencedores têm direito. Por outro lado, o resultado das eleições no PSD incomodou Cavaco que não parece nada agradado com esta união do partido à volta de alguém que recusa a sua tutela, a que Ângelo Correia chamou, apropriadamente, de "condicionamento moral do PSD".
Reconheça-se que é a todos os títulos razoável a preocupação do presidente da República com a estabilidade e a governabilidade do país, e compreensível, nesse sentido, a sua exortação feita à Oposição, e em particular aos partidos que apostam na sua reeleição, à viabilização do Orçamento Geral do Estado. Coisa diferente, que não pode deixar de traduzir uma ingerência indevida nas questões internas do partido, é aproveitar o dia seguinte à eleição de Passos Coelho para lhe deixar o recado de que o Plano de Estabilidade e Crescimento tem de ser aprovado para "defender Portugal perante o estrangeiro", sendo certo que o PSD tem o dever de escrutinar cada uma das medidas propostas pelo Governo e que integram o PEC em ordem a ajuizar da sua oportunidade e cabimento, e a poder apresentar eventuais alternativas às soluções que aí são propostas.
É certo que não pertence ao Parlamento a função de governar o país, mas a Oposição deve poder funcionar como Oposição, não podendo ficar refém da crise e dos interesses de Belém, onde tantas vezes se confundem as preocupações do PR e as conveniências eleitorais do candidato a futuras eleições. É esta a complexa equação que irá decidir o futuro da liderança de PPC e colocar à prova a unidade do PSD. Neste contexto, perante estes actores e um tal cenário parece legítimo reescrever a célebre boutade de Jorge Sampaio, e perguntar se este novo PSD terá vida para além do PEC e da candidatura de Cavaco Silva.