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Já é Natal nas principais avenidas. E nas lojas grandes, centros comerciais, praças e supermercados. Há luzes nas lojas do chinês, árvores gigantes ou penduricalhos, rabanadas e bolos-reis ou rainha, que agora são uma tendência. Há prendas e prendinhas, cabeças de leitão a competir com bacalhau demolhado e por demolhar, postas altas e patos e perus, mais centros de mesa e presépios com vacas e Reis Magos, mais o Menino Jesus que não envelhece, ao contrário de nós. Há gente feliz que tira os cachecóis do armário e invade o fim de semana em bichinha-pirilau com sacos e saquinhos de compras e listas com pedidos para trouxas de ovos e frutos secos que compram com o pavor de que esgotem, mas que dificilmente resistem até ao Natal. Às televisões já chegou o Coro de Santo Amaro de Oeiras com crianças que devem ser amigas do Deus Menino, pois, como ele, parecem sempre iguais todos os anos. Ou o Natal dos Hospitais onde este ano já não há Marco Paulo. E há depois os deprimidos, solitários, viúvos, os que perderam tudo, os sem-abrigo, os que um dia tiveram Natal e um lugar à mesa, os que contavam anedotas antes de abrir as prendas numa meia-noite que se tornou ferida aberta. Para esses são os piores dias do ano. Cada enfeite é uma prova de morte, de derrota, de tristeza. Cada bola na árvore dos outros, cada luz que pisca em casas que imaginam aquecidas é um grito mudo, um xeque-mate num tabuleiro sem peças. O Natal é quando quisermos que seja, mas para eles é sempre o desejo que morra rápido.

