Ao contrário do que seria de esperar, depois de uma legislatura dificílima e cheia de medidas impopulares (para além de discutíveis) é António Costa e não Pedro Passos Coelho quem se coloca numa posição de dolorosa subida (e o sentido é figura de estilo) a lembrar a escadaria coimbrã.
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Entre alguns resultados favoráveis aos partidos do Governo, e um tempo de exposição que é demasiado temporão para propostas definitivas e demasiado serôdio para a falta delas, António Costa tem sofrido o peso de sondagens muito pouco tranquilizadoras. E já só se fala, ao que parece, em maioria relativa!
Quem vê de fora, percebe que as tropas se alinham de acordo com a tradicional estratégia de divisão dos ovos pelos dois cestos que o regime semipresidencialista tenteia em equilíbrio instável.
Se queremos ganhar as legislativas, pensa o PS, não vamos conseguir a Presidência. O bom povo português vai deixar a "bomba atómica" nas mãos de outro. Talvez por isso António Costa se tenha apressado a deixar a Câmara de Lisboa e talvez por isso venha a apoiar Sampaio da Nóvoa na esperança de que, não ganhando as presidenciais, ao menos possa aproveitar o contágio de um candidato com entrada facilitada em franjas mais à esquerda dentro e fora do PS.
Esperemos é que o potencial candidato não se anime demasiado e não se torne no primeiro adversário do secretário-geral. A exemplo do que aconteceu em Cabeceiras de Basto onde o candidato do PS teve de resignar ao mandato, tal era a oposição do mesmo PS, vindo de fações ditas mais socratistas!
Mas a principal pancada, nas costas e nas sondagens, virá seguramente do preanunciado candidato às presidenciais do lado do PSD.
Marcelo Rebelo de Sousa, gozando de uma vantagem de partida no mínimo curiosa deleita-se, ao jeito de quem goza mais com os preparativos da viagem do que com a dita, a influenciar a torto e a direito a opinião do bom povo português sobre todos os seus factuais e potenciais adversários. Quando tudo estiver devidamente escrutinado e faltar coisa de cinco minutos para acabar o prazo, então, de gravata azul, lá se despedirá com um até Belém! É chibatada de peso...
No meio disto, os partidos da atual maioria dedicar-se-ão a esbater o perfil de Passos Coelho, enquanto um PP bronzeado tornará a aparecer como mestre-de-cerimónias.