A onda laranja que no domingo varreu quase todo o país atingiu com especial e porventura inesperada violência o distrito do Porto. Tal como o algodão, os números não enganam. Ei-los.
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1 - O Partido Socialista obteve no distrito o pior resultado, em eleições legislativas, dos últimos 12 anos. Ao contrário, o PSD conseguiu o melhor score no mesmo espaço de tempo. Contas feitas, o PS perdeu mais de 100 mil votos relativamente ao acto eleitoral de há dois anos. O PSD captou mais 95 mil votos.
2 - Nos dezoito concelhos do distrito, os sociais- -democratas só perderam em dois (e por poucos votos) para o PS: Matosinhos e Santo Tirso.
3 - Este esmagador resultado permitiu ao PSD eleger mais cinco deputados do que em 2009. Os socialistas, por seu turno, perderam quatro parlamentares.
Verdade que o devastador "efeito Sócrates" terá contribuído em boa medida para o desastre. Mas, tendo em conta a tradicional força do PS no distrito (a média de votos das quatro anteriores eleições é de uns impressionantes 432 mil votos) e tendo em conta que a abstenção registou o seu mais baixo valor no distrito do Porto, é verdade também que a catástrofe não pode ser unicamente lida à luz do castigo que os portugueses decidiram infligir a Sócrates.
A Distrital do Porto do PS tem pela frente um aturado exercício de interpretação do dilúvio. A máquina partidária emperrou? A lista de deputados não era convincente? O descrédito na vitória apoderou-se da alma dos dirigentes? Os autarcas não conseguiram encaminhar os habituais apaniguados? Foi tudo isto junto e mais alguma coisa?
Renato Sampaio, presidente da Distrital , está obrigado a uma reflexão difícil. Os resultados são demasiado maus para que tudo continue na mesma. Uma de duas: ou Renato faz de Louçã e finge que nada de extraordinário aconteceu, ou, não encontrando plausível justificação para a hecatombe, faz de Sócrates e demite-se.
Ao contrário, Marco António Costa reforçou o seu poder na Distrital do PSD do Porto (a maior do país). E, por essa via, no núcleo duro do partido. O resultado dá-lhe uma ampla margem de manobra para afastar os críticos e definir o rumo que mais lhe aprouver.