Os resultados das últimas eleições autárquicas trouxeram, como é habitual, a ideia de que todos ganharam.
Contudo, ao lado de algumas vitórias de Pirro, temos vitórias que são claras e que vão exigir muita atenção na formação de maiorias na vereação.
Um vencedor se destaca, desde já, o primeiro-ministro, Luís Montenegro. Conseguiu inverter um ciclo de eleições autárquicas onde, desde 2009, o PSD vinha a perder caminho. De uma forma clara, o PSD é, hoje, o maior partido nas autarquias, nas regiões autónomas e no Governo da República.
Esta vitória permite recuperar a liderança na Associação Nacional de Municípios e, desde logo, existem condições com os maiores municípios para o PSD abrir um debate em torno de uma nova organização administrativa do país. Mais descentralização e desconcentração irão ser exigidas. As reformas para o poder local e para a lei eleitoral das autarquias podem e devem agora avançar.
A governação autárquica em Lisboa e no Porto vai exigir um cuidado acrescido. As maiorias atingidas não permitem uma maioria de governação sem o apoio de um outro partido. Nesse sentido, o Chega poderá ter uma oportunidade de ser decisivo nessa inteligência de governação.
Contudo, os portugueses disseram de uma forma clara que preferem a moderação ao radicalismo. Um exemplo dessa clareza no discurso político esteve nas vitórias de Isaltino Morais e de Ricardo Leão. Ambos foram fiéis aos seus princípios e o eleitorado deu-lhes uma maioria absoluta.
No distrito do Porto, o PSD consolidou as suas autarquias e ainda conquistou mais Baião, Porto e Gaia. No Porto, a vitória de Pedro Duarte abre um novo ciclo político na cidade, esperando-se que o novo presidente da Câmara consiga impor a sua visão de liderança à área metropolitana, à região e a Lisboa. Certo é que, nos próximos tempos, o seu trabalho será muito de filigrana, já que a malha do Poder é demasiado fina para se poder facilmente romper.
Neste novo ciclo político, mais de metade dos eleitores nasceram após 1974, reflete-se uma nova imagem e um novo patamar de exigência para quem quer gerir as comunidades locais. O escrutínio será mais incisivo e transparente. O Poder ajudará a moldar as novas lideranças e a sociedade civil estará atenta ao cumprimento das promessas eleitorais.
O tempo vai obrigar a mais diálogo participativo nas soluções para que o desenvolvimento e a sustentabilidade das comunidades se possam afirmar.
A cultura, a ciência e a inovação terão de estar numa agenda que quer um Porto cosmopolita e aberto ao Mundo a promover as suas grandes marcas de referência.

