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Na lamentável "sessão solene" do 25 de Abril, os mais elevados circunstantes da nação perderam mais tempo em autojustificações, e em acrimónia contra quem criticou o exercício, do que em rever, com sentido de futuro imediato, o significado da data. Apenas Rui Rio pareceu preocupado com a sociedade cá fora - e com a preparação para uma eventual segunda recaída viral - quando já se sente o cheiro político do "aliviar" das medidas.
De resto, tratou-se de mais um momento fundador - já lhes perdi a conta - da recandidatura de Marcelo a Belém. Sem máscara em São Bento e de cara destapada para a Esquerda, a que se seguiu, na rua, com luvas e máscara, o "momento caridadezinha" com os sem-abrigo para consolo da Direita "boazinha", o presidente teve um mau dia pese embora os derrames laudatórios dos bonzos do costume. Ferro, então, atingiu o pico da mediocridade política ao aludir a "vacinas contra a austeridade", num contexto geral em que falar de vacinas é para outra coisa. Eram, e são todos eleitos? E isto é uma democracia representativa, como o presidente da República frisou no melhor estilo "tudo pela nação, nada contra a nação"? Com certeza. Mas convirá aos eleitos atentar nos contributos diários que dão para o colapso ético e político da representatividade formal. Que, do lado dos eleitores, se traduz por uma cada vez maior abstenção e indiferença cívica perante a frivolidade de "conversas em família" bolorentas.
O país não precisa de lições de superioridade moral da sua elite político-comunicacional, como no PREC não precisou delas por parte do PC ou do radicalismo esquerdista. Cito François Furet a propósito da Revolução Francesa: "É preciso procurar romper este círculo vicioso da comemoração que corre o risco de alimentar indefinidamente as afirmações de princípio e as polémicas crepusculares". Isto tudo quando, sem saber bem como, o Governo tacteia a reabertura da economia e da sociedade, por "tranches", em Maio.
A verdade é que o "exemplo" e o empurrão estão dados sob o alto patrocínio de Belém e do Parlamento, sem sequer ter havido o cuidado de se "mascararem", para usar a elevada terminologia do senhor presidente da Assembleia em relação a um dos elementos básicos de protecção comunitária. Ainda ontem a sra. Temido deu nota que o "Rt" - a média de transmissão contagiosa por pessoa - estará algures pelos 1,04, ou seja, uma pessoa ainda contagia potencialmente outra. O R0 está longe. Cuidado com esse Maio, "maduro" Maio, que se prepara. Não volte tudo para trás.
*Jurista
o autor escreve segundo a antiga ortografia