A senhora vereadora da Modernização e Descentralização Administrativa da União de Juntas de Freguesia de Santa Marinha e São Pedro da Afurada está de parabéns!Foi dado, há dias, mais um rumoroso passo rumo ao progresso com a comovente inauguração de um equipamento que vinha sendo, desde há muito, reclamado pela população. Não me refiro a um museu da faina onde víssemos narrada a tradição piscatória da sardinha, do sável e da lampreia, lado a lado com a exibição de uma maravilhosa colecção de armadilhas e fateixas, nós náuticos e anzóis, junto a uma embarcação restaurada (qual museu marítimo escandinavo), aqui, porém, uma traineira com o pressentido nome de "Valha-nos Deus!"; falo daquela que, segundo apurou o JN, era uma confessada "ambição" do presidente das Juntas de Freguesia: uma caixa automática multibanco!
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"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"; a PSP cedeu o espaço (na verdade, a parede exterior da esquadra como se, em matéria de usura, os potenciais ladrões fossem os locais), a Junta realizou o protocolo, e uma instituição bancária lá fez o favor de investir naquela que, por estes dias, constitui "a alegria da comunidade".
Na "cerimónia de inauguração", a máquina ainda não tinha dinheiro, o que não obstou a que a turba se juntasse frente à esquadra para espantadamente assistir (presume-se que) a uma consulta de saldo da conta de um dos presentes. O relato é omisso quanto ao facto, daí que possamos apenas especular se tal consulta terá sido feita à conta de algum pescador - a quem, por "insuficiência de saldo médio mensal", o banco se encarregará de "pescar" (passe o mau gosto) uma "comissão de manutenção" de 63 euros, tal é o custo de limpar o pó que se acumula dentro do buraquinho de um zero -, se da conta do presidente da Comissão Instaladora da Instituição Financeira de Desenvolvimento (incidentalmente no local?) que irá ganhar 13 500 euros por mês para (exactamente) "instalar" a Instituição Financeira de Desenvolvimento (desafio que qualquer excelente economista no desemprego aceitaria abraçar, por concurso público, pelos 5100 euros de referência que constituem o salário do primeiro-ministro) ou, quiçá, da conta do presidente executivo da Galp, a quem os bancos certamente não cobram a dita comissão de limpeza dado, em 2013, ter auferido 4493 euros por dia (1,643 milhões de euros por ano), valor acima do qual por ser tanta nota a circular, não chega a acumular-se pó; só no ano transacto, os cinco maiores bancos em Portugal ganharam 2,5 mil milhões de euros em comissões, o que naturalmente os põe a salvo de poderem ser considerados usurários da (extinta) classe média e dos reformados.
Não espanta que ainda haja idosos que prefiram guardar as suas insustentáveis reformas em casa, em caixas (não automáticas) da Tupperware, uma vez que estas, além de não serem tão despudoradamente assaltadas, limpam-se bem à mão. E sempre ficam a salvo dessa peregrina ideia da economista Teodora Cardoso que propôs que de cada vez que levantássemos dinheiro (da ATM da Afurada, por exemplo), pagássemos uma taxa que mais não seria do que um novo imposto camuflado. Para uma senhora tão respeitável, parece-me demasiado obsceno.
Humanismos à parte (algo que na Banca não abunda), de uma coisa podemos estar certos: da ATM da Afurada dificilmente se poderão levantar os 2,02 milhões de euros que custaram as assessorias jurídicas externas do Banco de Portugal porque esses (puff!) já voaram; ou, os 650 mil euros de multa que o ex-director de BCP, Luís Gomes (qual Jardim Gonçalves) se subtraiu de pagar porque esses (plim!) prescreveram. O que faz pena, dado que Carlos Costa, o inconstâncio governador do Banco de Portugal, estava decerto a contar com esse óbolo para pagar os 17 automóveis topo de gama adquiridos pelo (com licença) "supervisor", pela mais que aceitável quantia de 634 mil euros. E ainda sobrava troco!
Por fim, aproveito para lembrar aos leitores do JN que na Lipor, da Maia, a "Entrega de lixo dá direito a tablets e a telemóveis". Por favor, estejam à vontade para lá irem entregar quem quiserem.