Iniciamos 2023 com boas razões para esperarmos melhorias na prestação dos serviços de saúde em Portugal, nomeadamente com a entrada em funções da Direção Executiva do SNS, sob a liderança do competente professor doutor Fernando Araújo.
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Fazer milagres exige não apenas muito trabalho e capacidade de decisão e de concretização, mas também o acesso a informação atualizada, relevante e coerente, que capacite a tomada de decisões, visando quer as atuações mais imediatas e em tempo real, quer as ações de planeamento e de acompanhamento das intervenções estratégicas quer das reformas estruturais do SNS.
Insisto que a forma como se veem, arquitetam, desenvolvem e governam os sistemas de informação, neste caso, da saúde, constitui uma vertente crítica da imprescindível transformação digital do SNS.
E se anteriormente foquei a relevância da existência de informação integrada sobre cada utente, cada profissional, cada equipamento que constitui o universo do mundo da saúde em Portugal, em particular, o SNS, e que infelizmente continua a não existir, venho agora relevar a imprescindibilidade de definir, de forma clara e coerente, a informação associada às entidades institucionais existentes no SNS, quer em termos individuais, quer em termos sistémicos, iluminando as relações e interações entre estas, no contexto da prestação serviços de saúde aos portugueses, e na relação com o universos dos seus fornecedores de bens e serviços, existentes no mercado nacional e internacional.
É fundamental elevar o vetor sistemas de informação dos sistemas de saúde em Portugal, nomeadamente o SNS, ao patamar estratégico mais elevado das reformas a efetuar a longo prazo e das medidas táticas a operacionalizar no curto e médio prazos.
Na verdade, trata-se de enfrentar o desafio dos sistemas de informação da saúde como se fosse o do "novo" aeroporto de Lisboa. Esperemos que não leve 40 anos a percebermos que "o que tem mesmo de ser feito tem mesmo de ser feito", a tempo e horas!
Chega de empurrar com a barriga o futuro que já chegou. Não será a criação das quatro novas ULS uma excelente oportunidade para "começar a construir", desse já, o futuro sistema de informação da saúde português?
*Professor catedrático distinto jubilado do IST e fundador e investigador emérito do INESC
