Maria José Nogueira Pinto fala do que não sabe, fala sustentada em velhos estereótipos, fala do Portugal que imagina a partir do seu gabinete. E cai no ridículo
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1. O interessante discurso de Manuela Ferreira Leite (não, não é ironia!) nas jornadas parlamentares do PSD escondeu um momento que merecer ser revelado. Desde logo, porque se trata de um episódio revelador. A alturas tantas, Maria José Nogueira Pinto, convidada dos social-democratas para perorar sobre as matérias sociais, manifestou-se contra o complemento solidário para os idosos. Argumento: "Dar aos idosos 80 euros é um ultraje e um insulto". Credo! Porquê? "Porque eles, diabéticos, vão beber cerveja e comer doces e serão roubados pelos filhos".
Maria José Nogueira Pinto é uma daquelas figuras de Direita a quem, consta que com justiça, se colou há muito o rótulo de competente. Na política, chegou a lutar pela liderança do CDS/PP (todos nos lembramos do momento em que disse, apressadamente, que a Paulo Portas até o rato Mickey ganhava…), mas sem sucesso. Com as responsabilidades que lhe couberam em sorte nos cargos por que passou e com os objectivos que desenhou para si no campo político, Nogueira Pinto deveria conhecer pelo menos um bocadinho da realidade portuguesa. Não conhece. Não pode conhecer. Caso contrário, não diria tamanhos dislates.
O problema de Maria José Nogueira Pinto é este: ela fala do que não sabe, fala sustentada em velhos estereótipos, fala do Portugal que imagina a partir do seu gabinete. E esse Portugal é, entre outras coisas, o Portugal dos velhinhos abandonados nas suas aldeias e maltratados pelos filhos desempregados que não conseguiram emigrar, dos velhinhos que se refugiam na bebida para esquecer as amarguras da vida. Ou que, mal podem, esgotam todos os trocos nas pastelarias, cafés e tascas a deglutir sem parar porcarias cheias de açúcar que lhe estouram os diabetes. Um horror, um verdadeiro horror, este Portugal imaginado por Maria José Nogueira Pinto.
Por que razão é o episódio revelador? Porque mostra como a distância em relação à realidade conduz, num instante, muitos políticos e muitas personalidades ao ridículo. No caso, Maria José Nogueira Pinto pode ter as mais brilhantes ideias sobre onde e como deve aplicar-se o dinheiro gasto com o complemento solidário para idosos. Mas que caiu no ridículo, lá isso caiu…
2. O espectáculo continua na Madeira. Um deputado do PND abriu uma bandeira nazi no Parlamento. No dia seguinte, foi proibido de entrar na Assembleia Regional . A Assembleia acabou suspensa. O caso chegou ao Continente e indignou muito boa gente. Parece que o presidente da República já interveio para sossegar os ânimos na ilha e repor a legalidade democrática. Falta apenas ouvir Alberto João Jardim sobre a cena: sem a sentença dele o caso não chegará a ser um caso, apenas um divertimento. Sobretudo para ele.