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Tudo corre bem, Portugal é lindo, as praias são as mais incríveis, o clima o mais ameno, as cidades as mais espetaculares, as ondas as maiores, os futebolistas os melhores - na relva, no pavilhão e na areia. Os turistas são os mais entusiasmados, os visitantes os mais elogiosos, os vistos os mais golden. O Governo é o mais eficiente, a economia a que mais recupera, a Esquerda a mais pragmática e a Direita a mais abananada. Os funcionários públicos são os mais mimados, os do privado os mais calados, os patrões os mais moderning. O imobiliário é o mais desejável, os bairros os mais típicos, os apartamentos os mais apetecíveis, as escolas as que a Madonna mais like. A virgem de Fátima é a mais adorada, os santos os mais novos, a alegria de ver o Papa a mais alegre, o silêncio o mais silencioso. O presidente da República é o mais presidenciável, o mais caloroso, o mais amigo, o mais próximo, o mais fotografável, o mais fotografado, o mais autorretratado. O primeiro-ministro é o mais hábil, o mais negociador, o mais sorridente, o mais sereno, o mais otimista.
Há quem estranhe tanta felicidade e se admire com tanta auxese. Com tantos superlativos e hipérboles. Não parece Portugal, não é Portugal, não pode ser Portugal. Mas é sim, é Portugal igual a si próprio: da depressão pesada que tudo afunda, à leve euforia que tudo esquece.
*JORNALISTA