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Lemos a acusação a Sócrates e o relatório sobre Pedrógão e nem se sabe bem o que pensar ou dizer, é difícil aceitar que afinal é bem capaz de ser verdade o que há muito se pressentia, que os medíocres tomaram conta do país, que o usaram e desfizeram, que o exploraram e se aproveitaram, enquanto sorriam, o pior é que sorriam sempre, a olhar para nós e a olhar por eles, os medíocres, que por herança ou chico-espertice nos apareceram à frente, chegaram à frente do país, de sapatos e dentes brilhantes, a dar-nos com uma mão e a espetar-nos nas costas com a outra, logo eles, que não têm espinha, que se foram vergando, só os dobrados precisam de mentir e enganar, e ganharam milhões, os milhões dos outros, os nossos milhões, enquanto se passeavam, sorrindo, o pior é que nunca pararam de sorrir, enquanto nos convenciam e nos venciam, a cada transferência, a cada nomeação, a cada escolha que deixou para trás um excelente e pôs à frente um medíocre, amigo e companheiro, sem nome nem saber, sem curso nem percurso fora do circuito por onde eles circulam todos, os medíocres que não nos deixaram ser melhores do que eles.
Leem-se aqueles documentos e desconfia-se se as fachadas pintadas do regime não estarão todas seguras por madeira podre, comprada cara e com comissão ganha por um desses que nos envergonham e que, sem vergonha, continuam por aí a rir-se de nós.
JORNALISTA