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Quer Portugal saia vencedor, quer sejamos vencidos por esta França tão sensaborona quanto um croque-monsieur preparado na cantina da Bastilha, haverá sempre um vencedor português, nem que ele marque o auto-golo que decide a derrota. Cristiano Ronaldo é o nosso melhor futebolista de sempre, é superação, esforço, espírito de sacrifício, talento, mérito, resistência para carregar as dificuldades e força para devolver os ataques. Em Portugal somos o que Ronaldo sempre recusou ser. Rendidos por militância ao destino periférico, encostados à sorte que nos entregaram, que nos vão entregando. Por natureza, estamos certos de que melhores são sempre os outros, que é melhor que sejam os outros, porque assim será deles o fardo de serem melhores. O melhor é continuarmos pior, achamos, só assim podemos continuar a reclamar de nós, dos outros, de todos. "Que se foda" o medo ou o destino, disse ele a Moutinho, que se fodam os outros, eu não fico à espera de ninguém, decidiu Ronaldo, bem cedo na sua vida.
"A natureza é certo muito pode/ mas um homem de pé pode bem mais". Por isso, Cristiano, entra em Paris como sempre, de pé e orgulhoso, e lembra-nos o Ruy Belo: "O passado é mentira digo eu/ (...)/Ao grande peso de tanto passado/ com a insónia da dúvida na testa/ basta tua presença que protesta/ e todo eu me sinto renovado". E se nos deres a vitória, serão os adversários, por uma vez, a saber como é duro perder, como "É terrível ter o destino/ da onda anónima morta na praia".
Jornalista