Outra vez, a greve geral
Hoje, em Portugal, vamos viver, outra vez, um dia de greve geral. A exemplo do que acontece, desde 1982, a pretexto de várias alterações à legislação laboral, as centrais sindicais, lideradas pela CGTP-IN, recorrem a essa legítima figura do direito à greve para fazerem uma prova de vida da sua existência.
Vamos por partes porque não podemos esquecer que existe mesmo um certo cansaço da sociedade portuguesa que se tem vindo a refletir nos resultados eleitorais da extrema-direita.
Ainda recentemente observei numa capital europeia, em Estocolmo, como os fenómenos de combate à imigração, legal ou ilegal, criaram as condições para que o atual Governo sueco sobreviva apoiado na extrema-direita.
Em Portugal, num momento em que a Esquerda, na sua totalidade, está em minoria no Parlamento, com destaque para a extrema-esquerda, desde o Bloco ao PCP, passando pelo Livre, a central sindical de influência comunista, a CGTP, a mesma que, em 1975, defendia a unicidade sindical, sai para a rua de forma a poder combater aquilo que os portugueses não lhe deram em legitimidade parlamentar.
Certo é que o Governo não soube ou não quis fazer um debate inteligente a propósito da legislação laboral. Bastava, para tal, dar alguns exemplos bem-sucedidos de outras legislações europeias, com um forte Estado social, para compreender que vamos precisar não só de flexibilizar a lei, mas antes torná-la mais próxima da nova realidade do trabalho. Continuamos a ser um país onde é mais fácil despedir 20 trabalhadores do que um único. Continuamos a ser um país com um elevado número de contratos a prazo, onde seria mais acertado apostar num período mais alargado para o chamado momento de experiência. Continuamos a recusar pequenas alterações que poderiam ajudar a tornar a competitividade da nossa economia mais forte.
Ao mesmo tempo estamos a desenvolver dois tipos de trabalhadores. Os que aplicam a sua força física e os que privilegiam a sua capacidade digital.
Estas realidades não podem ser ignoradas num quadro de crise demográfica europeia e onde os Estados Unidos e a China estão a promover um mercado de trabalho desregulado. Os sindicatos dão, assim, um sinal político contraditório, mantendo setores inteiros, como os transportes, a saúde ou a educação, reféns da sua atuação. Duvido que neste dia os trabalhadores ganhem alguma coisa, com exceção dos sindicalizados que procuram fazer uma necessária prova de vida simbolizada na ideia de que "não ganho nas urnas, tentarei ganhar nas ruas".
Segundo especialistas, o PIB não será muito afetado pelo resultado desta paragem que, lembre-se, será acrescida de mais um dia de greve da Função Pública convenientemente junto ao final da semana.
Esperemos que o Governo promova mais diálogo para a concentração social, envolvendo a UGT e, dessa forma, faça merecer a distinção da revista britânica "Economist".

