2465 euros por minuto é muito ou pouco? E se dissermos antes 41 euros por segundo, parece mais? Mas descanse o leitor: não vamos alongar-nos sobre o salário de nenhum jogador de futebol ou de alguma estrela planetária do Instagram. 2465 euros por minuto é o valor que o Estado português vai despender em tempos de antena para as eleições legislativas.
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O bolo geral, a dividir entre televisões e rádios, ascende aos 2,3 milhões de euros, uma maquia bem apreciável, sobretudo tendo em conta o anacronismo destas ferramentas de divulgação na era digital. Alguém acredita mesmo que haja eleitores que formem a sua opinião com base na propaganda entediante a que se resumem estes exercícios comunicacionais?
Mas os tempos de antena são apenas uma das faces de um problema que, ato eleitoral após ato eleitoral, se torna cada vez mais indesculpável e incompreensível. Na noite de 30 de janeiro vamos estar a condoer-nos com os elevados índices de abstenção, a expiar os fantasmas de sempre, a apontar o dedo à pandemia e aos políticos corruptos que minam a vontade dos cidadãos em exercer o direito de voto. Mas talvez fosse útil olhar para o quadro geral e não apenas para as luzes cintilantes. Talvez fosse frutuoso questionarmos a forma como, em 2022, ainda se fazem campanhas como há 25 anos, distribuindo canetas, promovendo arruadas com bombos, fazendo festinhas a idosos, irrompendo por cafés para testar a popularidade ao balcão, posando para as fotografias com criancinhas sorridentes, tudo assente numa dinâmica geográfica que em gíria jornalística se designa como "o roteiro da carne assada".
Bem vistas as coisas, as campanhas eleitorais não se destinam a esclarecer ninguém. São meras coreografias editadas pelas televisões. A ataca B; C critica D; e, no final, esbarram todos na espuma do soundbite. A nossa sorte é que ainda não nos tiraram o dia de reflexão, que nos dá imenso tempo para pensarmos nestas coisas e, claro, para lermos os programas eleitorais dos partidos.
Diretor-adjunto