1 . O bastonário dos advogados, homem generoso que por vezes se perde a dar tiros para o ar, publicou um preocupante artigo no Boletim da sua Ordem.
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Nele revela que a carta anónima que envolveu Sócrates no caso Freeport foi uma manipulação da Judiciária de Setúbal e dos seus inspectores. A história, tal qual a conta Marinho Pinto, é triste: um indivíduo queria fazer uma acusação mas não queria dar a cara; um inspector, que por acaso o conhecia, combinou com ele a redacção de uma carta anónima. A PJ, diz Marinho, reunia frequentemente com o "anónimo", reuniões em que participavam dois jornalistas e políticos, um deles por acaso chefe de gabinete do então primeiro-ministro Santana Lopes.
O artigo de Marinho serve na perfeição a tese da cabala de que se queixa o primeiro-ministro. Mas, o que nos deveria agora preocupar está para além da defesa do primeiro-ministro. É que, sendo verdade o que Marinho conta, a Judiciária perde a credibilidade que possa ter. O que é preciso perguntar é se em Portugal se investiga assim: a polícia engendra uma acusação para depois poder investigar quem quiser? E se é assim com um político, até onde se irá com um cidadão mais indefeso? Reuniões com políticos e jornalistas não são, certamente, num ambiente democrático, método de investigação policial. Dará jeito não dar crédito a Marinho, fazer de conta que a investigação policial em Portugal é o máximo e que o primeiro-ministro mais as suas teses de cabala são o mínimo. Mas quem investiga deveria já ter vindo a público explicar como se faz em Portugal ou, em contrapartida, acusar Marinho de mentir, porque a história que ele conta coloca-nos a todos dúvidas sérias sobre o país em que vivemos.
2. Anteontem, na TSF, um indivíduo que quis manter o anonimato (ai, se a moda dos anónimos pega!) disse ser militar da GNR e que deixou de passar multas, sobretudo aos reformados, porque as pessoas não têm dinheiro para pagar. Eles próprios, militares, disse o anónimo, ganham muito pouco. Louve-se a bondade deste anónimo, preocupado com as magras reformas dos seus concidadãos que não podem pagar uma multa "por irem ao telemóvel ou por não terem o cinto posto". Mas avise-se os seus superiores hierárquicos do que se está a passar: pelos vistos, o desejo de fazer justiça pelas próprias mãos, ainda que na faceta mais benevolente, está a minar o contingente da GNR. É preocupante.
3- A frase seguinte poderia ser uma anedota, tipo humor negro, mas não é. Foi proferida pelo secretário-geral da segurança interna. Disse ele: "Como os bancos têm cada vez menos dinheiro em caixa, os criminosos, para obter a quantidade de que necessitam, fazem um, dois, três assaltos".
Anda tanta gente ainda a discutir o penálti da Taça da Liga e, afinal, ao pé de tudo isto, Lucílio Baptista é um menino de coro que resolveu dar emoção a um jogo que estava a cair para um lado. Certamente, nem o fez por mal. Limitou-se a ser, como tantas vezes antes disso, um árbitro incompetente. Oxalá pudéssemos dizer destes outros penáltis que são, apenas, incompetências.