Corpo do artigo
Na semana anterior abordei o tema “planear um modelo de cidade”. Entendi, hoje, escrever sobre algo que é complementar a esse processo: a participação pública. Ouvir as pessoas é um elemento de trabalho da maior relevância na construção da cidade. O que pensam os que habitam e trabalham na cidade? Que cidade desejam? Quais as maiores fragilidades e potencialidades na primeira pessoa?
Sempre que há um plano, um programa ou um projeto para aprovar, os cidadãos, e bem, são normalmente ouvidos no processo, mas acredito, cada vez mais, que já não chega. Este deveria ser um processo contínuo, capaz de introduzir os novos conceitos e atitudes face aos novos desafios, informar, sensibilizar e apelar à consciencialização cívica de todos.
Ora, como referi, precisamos de um processo de literacia sobre a cidade. Porém, colocam-se algumas questões como, por um lado, quais os limites da participação pública quando esta apenas procura unanimismos. Por outro lado, uma cidade não pode ser concebida apenas de “braço no ar” em assembleias, pois, desse modo, tornar-se-iam ingovernáveis, face às lógicas próprias do tipo “sim, mas não à minha porta”, de resto muito presente nas sessões que tenho presenciado.
Hoje, exigem-se consensos e equilíbrios com a comunidade. Este contexto revela-se muito gratificante quando conseguimos salas cheias de sonhos na melhoria da qualidade de vida e no reforço da identidade. Aliás, quando assim é, são momentos únicos de construção coletiva à procura do sentimento de pertença do lugar e do enriquecimento das relações sociais. E, a isto, chamo “ouvir a cidade”.