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Milhares de soldados, tanques, caças, mísseis e convidados perfilados à direita e à esquerda do presidente chinês. Quem ontem esteve na Praça da Paz Celestial, em Pequim, descreve o que acredita nunca mais conseguirá esquecer: o som das botas, o bafo das tropas, o poder da guerra na celebração da paz. Um enorme ruído e um silêncio de sepulcro. A China organizou a gigantesca parada para fixar a memória do fim da Segunda Guerra, mas é o princípio que interessa, o princípio de um novo tempo, de uma nova ordem, de uma nova guerra... se tiver de ser. Vimo-los desafiantes, graves, compenetrados e a postos. Putin com Kim, a Índia com o Paquistão e o Irão, o presidente Xi, impassível e glacial, a mostrar ao Mundo que está pronto para quando o "inverno chegar". Difícil escrever sobre o que não vimos, sobre o que se disse dentro das portas do Grande Salão do Povo mandado erguer em tempo recorde por "voluntários" no final da década de 1950. Sabemos que, logo a seguir à parada, a senhora Peng Liyuan, esposa de Xi, recebeu os convidados para que pudessem provar os talentos gastronómicos das mais variadas províncias. Sentados no Salão do Banquete do Estado, a ouvir o bianzhong, carrilhão de doze sinos de bronze e talvez o enfeitiçado piano de Lang Lang, os líderes desta nova ordem não precisaram de provar o ovo de ganso ou o caranguejo cozido a vapor, para ficarem convencidos de que os inimigos do povo um dia serão degustados em lume brando. Medo.