Estão feitas as escolhas partidárias para as eleições legislativas de 30 de Janeiro. Não há coligações - a do PC com "Os Verdes" é uma ficção - e cada um vai a votos sozinho. Para ganhar, isto é, para formar Governo, apresentam-se as mesmíssimas criaturas de 2019.
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António Costa leva seis anos como primeiro-ministro de dois governos minoritários, sustentados parlamentarmente pelo Bloco e pelo PC até este Outono. Não derrotou Passos Coelho. Só conseguiu formar Governo porque se aliou à sua esquerda para o derrubar no parlamento. Com Rui Rio foi diferente. Na única eleição por que ele era directamente responsável, Rio não passou no teste das urnas para primeiro-ministro. Todos os "activos" vitoriosos do seu mandato de quatro anos como presidente do PSD foram obtidos em coligação.
Aconteceu assim nas duas regiões autónomas, para os governos regionais, e em várias autarquias, em Setembro, com destaque para Lisboa, através de Carlos Moedas e Filipe Anacoreta Correia. Todavia, os militantes renovaram-lhe a confiança. Ainda ontem, saiu em ombros do congresso de Santa Maria da Feira, com o partido aparentemente unido atrás dele. Todos muito confiantes, e exigentes, na vitória. Só nas regiões autónomas a direita democrática concorre em coligação. Rio continuou a preferir enfrentar António Costa sozinho, com um lastro de permanente ansiedade política em substituir o Bloco e o PC no coração do primeiro-ministro. No palco de Santa Maria da Feira, todos os oradores desfilaram com o mesmo "slogan" por trás deles: "Portugal ao centro".
Durante o exercício, Rio explicou a um órgão de comunicação social o que é que isso queria dizer. Ganhe ou perca, o seu PSD, ele, está pronto para chamar Costa para perto de si, não o deixando ir embora em nenhuma circunstância. Mais. Mesmo que Costa perca, ele não quer deixar o PS ao abandono antes de escolherem outro secretário-geral. E exige-lhe, palavra de honra, que viabilize o seu putativo Governo porque é o que tenciona fazer a Costa. Ao recusar expressamente uma coligação, recusou a bipolarização.
E deu azo a que Costa, do seu pedestal de primeiro-ministro - e seguro no combate a uma pandemia que vai agravar-se rapidamente -, já diga que "a forma de termos maioria é sermos nós a maioria". Nada de "centros", portanto. À esquerda ou à direita. É a segunda vez que Rui Rio, em pouco mais de dois anos, abdica da vocação maioritária do PSD no espaço da direita democrática. Ele acha que desta vez é que é. Oxalá. Boas festas.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
*Jurista