Não faz sentido pagar 50 milhões (ou mais), que aliás não há, pelo Parque da Cidade. Mas o argumento é válido para pagamentos em dinheiro ou em géneros (terrenos e edifícios municipais).
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"Está a tentar-se uma solução, mas não é fácil. Porque eles querem receber muito e nós queremos pagar pouco". Do que falava Rui Rio, em Maio passado, era de encontrar uma solução para o diferendo entre a Câmara e os proprietários dos terrenos do Parque da Cidade. A julgar pelas notícias da semana passada, as negociações avançam. E a autarquia já explicou com que "moeda" pretende pagar: terrenos e edifícios municipais. Os primeiros com capacidade construtiva, os segundos atractivos para venda. Para que, com uns e outros, os proprietários consigam um negócio justo.
O modelo não oferece contestação. Porque a alternativa é deixar a decisão nas mãos dos tribunais. Ora, a sentença sobre o primeiro dos lotes de terreno em questão não prenuncia nada de bom para os cofres municipais e, portanto, para o bom uso que se deve fazer do dinheiro dos contribuintes: o valor atribuído a pouco mais de 73 mil metros quadrados foi de 25 milhões euros. E ainda está por definir o preço de outros 100 mil metros quadrados. Mais tarde ou mais cedo, a factura chegará.
Argumentarão alguns que a Câmara do Porto negoceia, agora, numa posição de fraqueza e que isso terá reflexos no preço a pagar. É um risco que se corre. Mas vale a pena corrê-lo, tendo em conta a quase unanimidade entre os cidadãos no sentido de garantir a integridade do Parque da Cidade. E é um risco que Rui Rio não parece ter receio de correr. Porque está obrigado a cumprir o compromisso que fez com os que o elegeram, mas também porque sabe que o tempo joga a seu favor.
O consórcio proprietário dos terrenos também tem pressa de seguir em frente e recuperar os milhões que empatou há uma década. E terá noção de que ninguém de bom senso defenderá o lucro privado face ao interesse público. Aliás, esta é uma das matérias em que o Executivo municipal deve falar a uma só voz, sem partidarites. Ainda que haja eleições no horizonte. A irresponsabilidade terá, para além de um preço em euros, um preço político.
Se o modelo de negociação não oferece contestação, isso não significa que tenha de ser aceite a qualquer preço. Rui Rio já se queixou que, a valerem os preços dos tribunais, o Porto teria o parque verde mais caro do Mundo. E o desabafo é igualmente válido para pagamentos em dinheiro ou em géneros (terrenos e edifícios municipais). Se não faz sentido pagar 50 milhões (ou mais), que aliás não há, a Câmara também não pode desbaratar todo o património num único equipamento.
Voltando ao princípio e ao desabafo de Rui Rio, não é uma solução fácil. "Eles querem receber muito e nós queremos pagar pouco". É sempre bom ter presente que "eles" é sinónimo de interesse privado e "nós" de interesse público. Não pode haver dúvidas sobre qual deve prevalecer.