A Área Metropolitana de Lisboa (AML) divulgou resultados de um estudo que revelam que, nos seus 18 municípios, mais de 50 400 famílias vivem em situação de grave precariedade e pobreza, habitacional e financeira.
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São mais de 140 000 pessoas, incluindo-se neste número, certamente, milhares de crianças e jovens. São mais pessoas do que o número de habitantes em distritos como os de Bragança ou Portalegre.
Em muitas circunstâncias se afirmam grandes preocupações com os territórios de baixa densidade. Infelizmente, não são objeto da mesma apreensão os territórios onde se concentram as pessoas. E o país real é aquele onde estão as pessoas.
A situação da AML é particularmente crítica, porque deve ser a região mais heterogénea e mais desigual de todo o país. Pode ser o Centro do país, mas nela inclui um centro e a sua própria periferia. A maioria dos seus municípios têm sido gravemente penalizados pela proximidade a Lisboa, em vários planos. Desde logo, no acesso a fundos comunitários para investimento. Apesar de terem índices de poder de compra e de desenvolvimento muito inferiores aos de Lisboa, Oeiras e Cascais têm um tratamento igual nas condições de investimento comunitário. Esta é uma das razões que desencadearam o processo de autonomização e saída dos municípios da península de Setúbal da AML.
Depois, Lisboa, concelho, tem um poder centrípeto no que respeita a recursos. Nela se concentram as instituições de Ensino Superior e de Ciência, nela se concentram as oportunidades de emprego público e privado, os serviços públicos de saúde e de proteção social. Concentração que tem como efeito, para as pessoas residentes nos municípios circundantes, uma dependência que pesa duramente sobre as suas vidas, sob a forma de movimentos pendulares que, na prática, têm como consequência o aumento do tempo de trabalho, se nele incluirmos os tempos de deslocação.
Os municípios de Amadora, Loures, Mafra, Odivelas, Sintra e Vila Franca de Xira somam mais de um milhão de residentes. São municípios de alta densidade, mas não são Lisboa, e deviam ter uma atenção política que tem faltado. São municípios em que cresce a população, cresce a população jovem e crescem também os problemas da pobreza e da exclusão social e económica. São dinâmicos do ponto de vista económico, cultural e educacional, mas muito desiguais do ponto de vista social. Faz falta na AML um impulso para um desenvolvimento mais igualitário, com menos segregação e exclusão.
*Professora universitária