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E nquanto os incêndios provocam a morte de bombeiros e arruínam o país, os irresponsáveis que têm a seu cargo as políticas de prevenção e de combate a fogos revelam um desnorte total. As suas actuações são erráticas. Sem estratégia e sem chama, esperam milagres da meteorologia. Ainda estão na fase da dança da chuva.
A origem primeira dos fogos florestais não está na escassez de meios para o seu combate, mas na falta de prevenção, na ausência de um programa nacional de manutenção das matas.
A solução está à vista. A limpeza das florestas deveria ser permanente, utilizando todos os recursos públicos e meios humanos disponíveis. Sob a coordenação local das corporações de bombeiros, nela deveriam participar os próprios bombeiros e, consoante a região, também as Forças Armadas e de segurança, bem como alguns dos milhares de funcionários do inútil Ministério da Agricultura. Deveria recorrer-se ainda à mão-de-obra de presidiários. Cada corpo de bombeiros seria responsável por uma área geográfica e o seu desempenho seria avaliado e pago em função dos incêndios que evitassem e nunca, como hoje e de forma perversa, pelo número de horas de combate a fogos.
Como se financiaria o sistema? Desde logo, com o que já se gasta nas campanhas de combate a incêndios, que incentivam os próprios incêndios, ao enriquecerem as empresas que se alimentam deste negócio. A que deveria acrescer a receita obtida com a comercialização da biomassa resultante da limpeza das matas. E também os lucros que o Estado português teria com o acréscimo de absorção de carbono pela floresta, aumentando assim as contrapartidas nacionais no mercado mundial de emissões de carbono. Por último, com uma parte do imposto sobre os combustíveis. Pois é à floresta, que absorve parte da poluição produzida, que devem ser consignados os impostos de quem polui, como consagra o princípio do poluidor pagador.
Se há soluções e sobram recursos, estes responsáveis políticos, incapazes de promover uma estratégia de prevenção de incêndios, revelam-se incompetentes. Mais, ao comprometerem o nosso futuro, são negligentes e criminosos.
*professor universitário