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Francis Bacon resumiu há uns bons anos, de forma sintética, aquele que será o sentimento com que muitos portugueses encaram a entrada em 2012. Ele dizia-se "um optimista acerca de nada". É assim que temos que nos sentir, quando sabemos quão pesado é o lastro recessivo que trazemos agarrado às nossas vidas e quão ciclópica é a tarefa que temos pela frente.
Entendamos: ou 2012 é o primeiro ano do resto das nossas vidas, sendo certo que as nossas vidas (e dos nossos avós, dos nossos pais, dos nossos filhos e dos nossos netos) não será tão aprazível (digamos assim) como foi até agora; ou 2012 é o primeiro ano do definitivo afundamento da nossa economia, das nossas finanças e, por essa via, do nosso futuro enquanto estado-nação. O ponto de partida não é entusiasmante, porque, de facto, só podemos ser "optimistas acerca de nada", na exacta medida em que é o "nada" que se nos impõe com uma força desmesurada.
Haverá no ano que hoje começa um conjunto de palavras-chave que poderão ajudar a que este sentido vazio do "nada" se avolume, se tudo correr mal. Ao invés, poderemos começar a sair do "nada" se, num assomo de coragem, fizermos o que tem que ser feito.
Eis algumas palavras-chave.
Desemprego: a muito provável escalada da falta de trabalho deslaçará um país habituado a reagir com comedimento às dificuldades. O aproveitamento político deste flagelo tenderá a agravar as tensões sociais, a fazer disparar a marginalidade e a criminalidade, com os custos que isso acarreta.
Economia: a nossa verdadeira prova de fogo. A falta de sinais de crescimento agravará a recessão em que estamos mergulhados. Segue-se o círculo vicioso: mais impostos para cobrir os custos de manutenção do Estado.
Governo: é desejável que comecemos a ver o primeiro-ministro a fazer política e não apenas a ocupar o espaço mediático para nos dizer, com mais ou menos palavrão tecnocrático, que a vida está difícil. O estado de graça de Passos acabou há algum tempo. Ministros decisivos como o das Finanças, da Economia e da Agricultura começam a dar sinais de desnorte. O "nada" está a "comer-lhes", aceleradamente, a vontade.
Mercados financeiros: os malvados sem rosto são capazes de dar cabo de tudo num instante, mesmo que estejamos a fazer lindamente os trabalhos de caso. Resta rezar.
Oposição: a mais responsável (o PS) tem que ser capaz de nos mostrar que é possível acrescentar ideias às ideias que parecem dogmas. Da outra, espera-se o habitual barulho inconsequente.
Presidente da República: os caminhos de Cavaco e Passos Coelho foram-se separando, numa altura em que deviam aproximar-se. As críticas do chefe de Estado ao corte de subsídios de Natal e Férias e aos apoios sociais foram duras. Qual será o limite do aceitável para o presidente da República? E se esse limite for ultrapassado, o que fará Cavaco?
União Europeia: ao contrário dos mercados financeiros, aqui há gente com rosto conhecido. Mas aplica-se a mesma tese: são capazes de dar cabo de tudo num instante. Resta rezar.