O Institute of Economics and Peace publicou recentemente o seu Global Peace Index. Em 162 países estudados, Portugal aparece como o terceiro país mais seguro do mundo! Aqui ao lado, Espanha está já em 32.º lugar e França classifica-se no 60.º...
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E, no entanto, a palavra do ano em Portugal foi "violência [doméstica]".
Não é um atentado público à segurança e não está, julgo que por isso, contemplado no Índice de Paz Global, mas é um seríssimo sinal de uma sociedade de aparência, de paz superficial, de tensão latente.
E, se formos ver o que está publicado na página da APAV, percebemos ainda melhor o quanto a tranquilidade de que parecemos gozar está minada nas bases. Na sua célula mais fundamental - a família! E a família na sua forma mais tradicional e, ainda, mais comum no nosso país. De acordo com o último relatório anual publicado pela APAV, em 2018, as vítimas casadas pertencentes a famílias nucleares com filhos foram, de longe, as vítimas mais frequentes.
De acordo com o mesmo relatório, a APAV registou três idosos, dois homens, três crianças e 14 mulheres vítimas de violência por dia. Em cada um dos dias do calendário de 2018. Fora, a larguíssima maioria que não contacta a APAV......
A avaliar pela "Palavra do Ano" de 2019, o relatório da APAV do ano que agora findou trará seguramente piores notícias. Não nos podemos, portanto, iludir com a segurança propalada no nosso catálogo turístico.
Não nos matamos nem nos agredimos na rua, mas estamos profundamente doentes nas nossas casas. E, um dia, isso notar-se-á... na rua!
Nem de propósito, ou mesmo por isso, a palavra escolhida com maior votação a seguir à vencedora foi a palavra "sustentabilidade". Como se todos percebêssemos que temos de ir ao fundo das questões, que não podemos contentar-nos com o que parece menos mal, que não devemos ficar tranquilos porque ganhamos aqui e ali por abstenção.
Até porque disfarçar as dificuldades para manter o "status quo" é, provavelmente, a mais requintada forma de violência [democrática].
*ANALISTA FINANCEIRA