Na banca, na primeira página de todos os jornais, está o nome de Roberto Jefferson. Presidente de um partido, ex-deputado, aliado de Bolsonaro, barricou-se e recebeu com mais de vinte tiros e com duas granadas os agentes da polícia que foram prendê-lo, acusado de ter violado em múltiplas ocasiões as regras estabelecidas para a sua prisão domiciliária. Apesar de garrafais, as letras dos títulos não parecem suficientes para o tamanho de tal despropósito.
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Há dias, assisti a parte de um desses programas de crimes, tão comuns nos canais brasileiros. Em certo momento, surgiram várias filmagens de telemóvel enviadas por espectadores. Nas suas casas, homens apareciam durante alguns segundos, em frente do aparelho de televisão, e afirmavam-se de acordo com o apresentador do programa, defendiam que é preciso mudar a lei e armar as "pessoas de bem". Dá que pensar, quem serão essas "pessoas de bem"? O ex-deputado Roberto Jefferson será uma delas?
Sento-me na mesa de um boteco, leio os jornais que comprei. Passa um carro com um altifalante, vende pamonhas, uma iguaria brasileira. O altifalante repete a gravação: "pamonhas gostosas, milho verde temperado, uma delícia, venha comprovar." E no fim, diz simplesmente: "pamonhas, pamonhas, pamonhas."
Leio na Folha de São Paulo que um vendedor de toalhas estampadas com os rostos dos candidatos está satisfeito com o negócio. 30 reais por cada toalha. Segundo a reportagem, anota as vendas a giz num quadro, separando-as por candidato. Chama "Datatoalha" a esse registo, em alusão cómica ao Datafolha, famoso instituto de sondagens eleitorais.
Método falível. Veja-se o caso referido no jornal Estado de São Paulo de uma loja de produtos eletrónicos, perto de Piracicaba, em que o dono colocou uma toalha de Lula na entrada para que os clientes limpem os pés. Ao comprá-la, contribuiu para um qualquer "Datatoalha" no sentido inverso da sua intenção.
O carro avança devagar, o altifalante repete: "pamonhas, pamonhas, pamonhas."
*Escritor