Assinalam-se amanhã dois anos desde que foi identificado o primeiro caso de COVID-19 em Portugal.
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O período pandémico transformou profundamente as dinâmicas sociais e alterou os nossos comportamentos diários de relação com os outros, adiando consecutivamente o nosso futuro coletivo e o regresso às nossas vidas, à nossa comunidade e, no fundo, à normalidade.
Este tempo novo que vivemos no nosso país coloca-nos grandes desafios que devem, por um lado, ser encarados com confiança e, por outro, devem continuar a convocar o melhor da nossa sociedade, para dar uma resposta adequada, que vire definitivamente a página da pandemia e prepare o futuro da saúde em Portugal.
O longo período de resiliência coletiva mostra-nos que tomámos as opções em tempo útil e oportuno, ajustadas a uma realidade dinâmica, num contexto particularmente exigente e desconhecido.
A extraordinária adesão cívica da população portuguesa às medidas não farmacológicas e às regras sanitárias estabelecidas, o reforço da capacidade de testagem, o sucesso da campanha de vacinação, o apoio dos peritos e da ciência, bem como a qualidade e o espírito de missão dos profissionais de saúde, têm sido fatores determinantes para os resultados atingidos, objeto de amplo reconhecimento dentro e fora de portas.
Mas, como em todas as crises, também a pandemia evidenciou e consolidou aprendizagens: 1) o significado de vida humana ganhou uma maior dimensão; 2) a importância da solidariedade como fator de resiliência coletiva; 3) a constatação da relevância da saúde mental como elemento essencial para o bem-estar; 4) a certeza de que a saúde deve ser um pilar fundamental na construção de políticas públicas e 5) que o reforço do trabalho intersectorial e a cooperação entre a administração central e o poder local são essenciais.
A diminuição das restrições confere-nos uma vitalidade renovada para virarmos a página da pandemia. Contudo, importa reconhecer que, apesar da experiência e aprendizagem que adquirimos sobre o vírus SARS-CoV-2, temos de continuar vigilantes face ao quadro de incerteza relativo ao eventual aparecimento de novas variantes, à possível sazonalidade da incidência deste vírus e à perspetiva de duração da imunidade conferida pela vacina ou pela infeção.
Neste sentido, é fundamental que continuemos empenhados e comprometidos na nossa cidadania ativa. Este é o tempo do cidadão no centro da gestão da pandemia e do seu futuro individual com impacto coletivo. É o tempo de cada um apostar no controlo e prevenção e na auto-monitorização do estado de saúde.
Por outro lado, o Serviço Nacional de Saúde tem dado provas da sua capacidade de resposta e da garantia da proteção dos nossos cidadãos, assim como, o sistema de saúde graças à cooperação de todas as entidades que o integram.
Paralelamente, continuamos comprometidos em afirmar uma política de saúde que retire o foco na doença e coloque verdadeiramente o cidadão no centro do sistema e da decisão, ao longo do ciclo de vida. A prevenção deverá ter uma visão integrada, traduzindo-se materialmente em melhor acessibilidade aos serviços de saúde e maior integração de cuidados e permitindo um acompanhamento constante do utente em todo o circuito do sistema, de forma a obter maiores ganhos em saúde, reduzir as desigualdades e aumentar os ganhos de eficiência.
Naturalmente, os serviços de saúde de proximidade são essenciais nesta equação, num processo contínuo de adequação da resposta às necessidades em saúde, através da internalização de serviços, da aposta na literacia em saúde, da formação e capacitação de profissionais de saúde, da promoção de modelos organizacionais inovadores na prestação de cuidados e do reforço do investimento.
Sofremos muito, aprendemos bastante, estamos agora preparados para o futuro que amanhece.
Secretário de Estado Adjunto e da Saúde