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Reuniram-se no Vaticano, este fim de semana, os dirigentes das principais empresas do setor petrolífero, do gás natural e de outras atividades ligadas à energia, como são os fundos de investimento. O Papa Francisco recebeu-os no sábado e desafiou-os "a ser o núcleo de um grupo de líderes que imaginem a transição energética global que tenha em conta todos os povos da Terra, bem como as futuras gerações, todas as espécies e os ecossistemas".
Já na encíclica "Laudato si"", dedicada às questões ambientais, o Papa tinha referido que a "tecnologia baseada nos combustíveis fósseis deve ser, progressivamente e sem demora, substituída" (n.o 165). Agora pede aos produtores e investidores nesse tipo de tecnologia "para evitar mudanças climáticas desastrosas que possam comprometer o bem-estar e o futuro da família humana e da casa comum", um compromisso sério numa "transição que faça crescer constantemente o uso de energia com alta eficiência e baixo nível de poluição".
Francisco relembrou que os efeitos das mudanças climáticas afetam, sobretudo, os mais pobres - e alertou que esses efeitos se sentirão mais num futuro próximo. Por isso, reiterou que "a transição para uma energia acessível e limpa é uma responsabilidade que temos para com milhões de nossos irmãos e irmãs no Mundo, para com os países pobres e para com as gerações vindouras".
O Papa reconheceu que muitas das empresas que estavam diante de si, tanto petrolíferas como financeiras, têm dado passos para a proteção do ambiente. "As empresas de petróleo e gás estão a desenvolver abordagens mais aprofundadas para avaliar os riscos climáticos e, por conseguinte, a modificar os seus planos empresariais. Isso é digno de louvor. Os investidores globais estão a rever as suas estratégias de investimento para ter em conta as considerações ambientais. Começam a emergir novas abordagens à "finança verde"", disse.
Todavia, o que está a ser feito não é suficiente. Pelo que Francisco desafia que aqueles que "demonstraram a sua capacidade de inovar e melhorar a qualidade de vida de muitos, com o seu engenho e competência profissional, possam ainda contribuir mais, colocando as suas capacidades ao serviço de duas grandes fragilidades do Mundo de hoje: os pobres e o ambiente".
O Papa revelou estar profundamente preocupado com o futuro da humanidade. E, ao fazê-lo, ao colocar temas tão decisivos na agenda e ao chamar os responsáveis planetários pelas suas causas, impõe-se, cada vez mais, como um líder global. Essa sua liderança, para além de estratégica, tem sido corajosa, uma vez que confronta os grandes potentados do mundo capitalista com as consequências negativas dos seus negócios lucrativos e desafia-os a comprometerem-se na sua correção.
Neste encontro, o Papa disse ao Mundo que boa parte da resolução das alterações climáticas, ou do acesso dos mais pobres à energia, está nas mãos daqueles dirigentes que tinha diante de si. É crucial para todos que a humanidade, cidadãos e governantes, se coloquem ao lado do Papa nesta causa.
PADRE