A pandemia também está a afetar as finanças da Santa Sé, sobretudo devido à diminuição das receitas provenientes das visitas ao Vaticano e aos seus museus. No início deste mês foi promovido um encontro com a participação dos vários dicastérios (os órgãos de governo e de missão da Santa Sé) para analisar a situação financeira do Estado da Cidade do Vaticano.
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Na sequência dessa reunião, numa entrevista ao "Vatican News", o padre jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves, prefeito da Secretaria para a Economia desde o início de 2020, alertou para a necessidade de se fazerem cortes nos gastos sem pôr em causa a missão dos organismos vaticanos. "Há três coisas que não estão em causa, nem mesmo neste tempo de crise: a remuneração dos trabalhadores, a ajuda às pessoas em dificuldade e o apoio às igrejas necessitadas", disse então.
O responsável pelas Finanças do Vaticano sublinhou também nessa entrevista que "nenhum corte afetará aqueles que são mais vulneráveis".
Tendo em conta estas premissas, o Papa Francisco decretou cortes salariais, com efeitos a partir do próximo mês, com o principal objetivo de "salvar os postos de trabalho". A redução salarial terá um maior efeito sobre aqueles que mais recebem e serão mais afetados os clérigos e os religiosos que os leigos.
Os cardeais verão assim a sua remuneração reduzida em 10%, os dirigentes intermédios receberão menos 8% e os salários mais baixos serão cortados em 3% - mas não afetando os leigos. Estes cortes só não terão efeito se a pessoa afetada comprovar que tem gastos fixos com a saúde própria ou de familiares até ao segundo grau de parentesco, às quais não poderia fazer face em virtude da diminuição do salário.
Muitas vezes criticam-se os governos por serem fortes com os mais fracos e frouxos com os poderosos. Como atestam os cortes salariais agora aprovados pelo Papa, no governo do Vaticano protegem-se os mais fracos em detrimento dos mais poderosos. A opção preferencial pelos mais pobres não são palavras vãs na boca do Papa: influencia mesmo o desenho das medidas a implementar para enfrentar os efeitos económicos da pandemia.
Padre