Papa e D. António traçam o caminho Dentro e fora da ameaça
Fátima e Roma, apesar de despojadas de peregrinos e de turistas, continuam a congregar e a abraçar as pessoas de todo o Mundo, sobretudo os que mais sofrem. E a ter uma palavra para elas.
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Na passada quarta-feira, o cardeal D. António Marto consagrou a Igreja em Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Foi uma celebração também ela despojada, reduzida ao mínimo de participantes, mas com a qualidade e a profundidade que têm caracterizado as iniciativas promovidas pelo Santuário de Fátima.
A oração da consagração enraíza-se na piedade popular, mas vai mais além. Tem por objetivo consagrar a Igreja presente em Portugal e Espanha, mas envolve também os governantes e pede a inspiração para as medidas que estes são chamados a tomar. Não se fica pela petição, mas convoca à cidadania e à solidariedade, como destacou num texto no jornal digital "Sete Margens" o jornalista Joaquim Franco: "Não é comum invocar a "cidadania" numa celebração religiosa desta natureza. António Marto sintonizou a oração dos crentes com a urgência de uma atitude ativa perante expectáveis dramas familiares e sociais".
Dois dias depois da consagração, o Papa Francisco promoveu mais um dos seus gestos surpreendentes a que deu o nome de "Momento extraordinário de oração em tempo de pandemia". Foi, de facto, um momento único - e ficará para a história como uma das imagens mais fortes desta pandemia. Um idoso, vestido de branco, sozinho, subiu a Praça de S. Pedro com o objetivo de dar um abraço a todo o Mundo e lhe levar uma mensagem de ânimo e de esperança.
No fim da tarde de sexta-feira, o Papa parecia carregar consigo todo o sofrimento do Mundo. E, como tem feito muitas vezes, voltou a denunciar o individualismo, a autossuficiência: "A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixámos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade".
Para o Papa - apesar de nos vermos obrigados a separarmo-nos - é claro que estamos todos na mesma barca. "Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos", disse o Papa comentando a passagem do Evangelho em que os discípulos, com Jesus a bordo, são surpreendidos pela tempestade. Ficam apavorados, enquanto Jesus continua a dormir à popa da barca.
Nestas circunstâncias, para o Papa, "o Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar".
A resposta de Fátima e de Roma ao Mundo coincidem na proposta de uma oração. Que esta, ao ser feita, convoque à solidariedade, a única forma de vencer esta pandemia.