Na Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), na passada sexta-feira, o Papa Francisco apoiou-se em três palavras num breve discurso em que desfiou vários assuntos que o preocupam, questionando "gregos e troianos".
Corpo do artigo
A CDF é a mais antiga Congregação da Cúria Romana. Começou por ser Inquisição e passou a Santo Ofício. O Concílio Vaticano II procurou libertá-la do seu caráter persecutório e fez dela a promotora da fé.
O Papa agradeceu à CDF o seu "precioso serviço" para "promover e proteger a integridade da doutrina católica sobre a fé e a moral". Uma "integridade fecunda", precisou. Duas palavras que serão intencionais para sublinhar que esta doutrina não será estática mas dinâmica, para não repetir os erros do passado.
As três palavras propostas pelo Papa foram: "Dignidade, discernimento e fé".
O Papa falou da necessidade de discernimento nesta "mudança de época". Na "luta contra os abusos" de todos os tipos. No acompanhamento das famílias desfeitas e reconstruídas. E, sobretudo, no caminho de autoquestionamento sinodal que a Igreja está a desenvolver.
Em relação à fé, sublinhou o papel da congregação em defendê-la e em promovê-la. Sem esquecer que "uma fé que não nos perturba é uma fé que deve ser perturbada".
Antes tinha falado da dignidade humana. O Papa apelou ao respeito do "seu caráter intrínseco, desde a sua conceção até à sua morte natural". Ao colocar assim a questão agradou a todos os que são contra o aborto ou a eutanásia. Só que antes tinha denunciado "a tentação de considerar o outro como estrangeiro ou inimigo, negando-lhe uma real dignidade". Aqui agradou a todos os que repudiam os discursos xenófobos e racistas.
Porventura serão hoje mais visíveis os católicos que militam nos designados movimentos pró-vida e menos aqueles que se envolvem na defesa dos excluídos e dos estigmatizados. E é muito difícil encontrar católicos que sejam capazes de estar dos dois lados destas barricadas conotadas politicamente mais com a Esquerda ou com a Direita - divisão esta, aliás, a que a Igreja é e deve ser alheia. Não será fácil corresponder às pretensões do Papa...
*Padre