A Igreja Católica tem vindo a redescobrir e a valorizar o papel dos leigos e da mulher na vida da Igreja e do Mundo. Foi o Concílio Vaticano II que começou a desbravar esse caminho.
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Em 2016, o Papa Francisco fundiu o Pontifício Conselho para os Leigos com o da Família, tendo-os elevado à dignidade de Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. O cardeal português D. António Marto é membro deste Dicastério, o qual promoveu no Vaticano, na semana passada, a sua primeira reunião plenária. Todos os seus membros se encontraram com o Papa no sábado passado, tendo-lhes este deixado duas recomendações: não "clericalizar" os leigos; e dignificar o papel da mulher na Igreja.
A promoção do laicado tem muitas vezes resvalado para a sua instrumentalização. Promove-se a sua participação na vida da Igreja para substituir os padres e não para desempenhar as tarefas que são próprias e específicas dos leigos. Da mesma forma, não é reconhecida à mulher a riqueza que ela pode trazer à dinâmica eclesial. O Papa deu o exemplo da participação de uma subsecretária deste novo Dicastério na reunião dos presidentes das Conferências Episcopais sobre os abusos sexuais, em fevereiro. Ela "fez ouvir outra música, outra maneira de ver e pensar", disse o Papa. "E isso enriqueceu a reflexão!"
Até os diáconos permanentes, segundo o Papa, podem ser instrumentalizados e transformarem-se em substitutos do padre ou reduzidos apenas às suas funções litúrgicas no altar, quando eles devem ser muito mais do que isso. Os diáconos surgiram na Igreja Primitiva para se dedicarem ao serviço dos mais pobres e libertarem os apóstolos para a pregação da Palavra (Cf. Act. 6, 1-6). Essa é a sua matriz, bem mais importante que as tarefas litúrgicas que lhes estão confiadas. "Eles são os custódios do serviço e não os acólitos de primeira ou os padres de segunda categoria", afirmou o Papa, no sábado.
Tanto os leigos como os diáconos permanentes - que, apesar de serem clérigos, têm uma profissão - são chamados a desempenhar uma missão no Mundo. No encontro com os membros do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o Papa afirmou: "A Igreja, como toda a mãe, também quer que os seus filhos cresçam autónomos, criativos e empreendedores, e não que continuem infantis. Do mesmo modo, todos os leigos, filhos da Igreja, devem ser ajudados a crescer e a tornarem-se "adultos", superando as resistências, "saindo do armário", de forma audaz e corajosa, colocando os seus talentos ao serviço de novas missões na sociedade, na cultura, na política, enfrentando sem temor e sem complexos os desafios que o Mundo contemporâneo coloca".
Bem mais importante do que o trabalho dentro das igrejas, é o testemunho que os cristãos são chamados a dar no Mundo. O Papa destacou "tantos fiéis leigos no Mundo, os quais, vivendo com humildade e sinceridade a sua fé, se tornam grandes luzeiros para aqueles que vivem junto deles". Esta é a principal e primordial missão confiada aos leigos. E isso requer que sejam "cristãos adultos".
*Padre