No dia em que os portugueses se preparavam para o ato eleitoral de domingo, quando se fazia o funeral de um dos fundadores da democracia, Diogo Freitas do Amaral, o Papa Francisco entregava o barrete cardinalício a D. José Tolentino Mendonça.
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Na homilia da celebração o Papa falou da compaixão, uma "palavra-chave do Evangelho", que "desde sempre está escrita no coração de Deus". Não falou da compaixão como um sentimento de pena, como habitualmente é entendida, mas como o sopro que vem do mais profundo do ser humano e o leva a identificar-se e assumir os anseios, as preocupações e o sofrimento do outro.
A compaixão de Jesus, para o Papa, "não é uma atitude ocasional e esporádica - é constante!". Mais: "Parece ser a atitude do seu coração, no qual encarnou a misericórdia de Deus".
Depois de propor diversos textos bíblicos que clarificam as características da compaixão divina, o Papa constata que, por vezes, "os discípulos de Jesus dão mostras de não sentir compaixão". A falta de compaixão, disse o Papa, "é uma atitude comum entre nós, seres humanos, mesmo em pessoas religiosas ou até ligadas ao culto".
Dirigindo-se particularmente aos cardeais, o Papa concluiu que "muitos comportamentos desleais de homens de Igreja dependem da falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença" em relação ao sofrimento dos outros.
O Papa sabe bem que tem entre os purpurados quem se oponha ferozmente às reformas que ele pretende implementar na Igreja. Isto apesar de todos os cardeais, no dia em que receberam o barrete cardinalício, terem jurado solenemente fidelidade e obediência ao Santo Padre e aos seus sucessores, como aconteceu neste último Consistório.
Para o Papa, essa deslealdade resulta da falta de compaixão. A falta de compaixão para com os divorciados recasados, por exemplo, estando mais preocupados em ser fiéis à legislação da Igreja e aos seus princípios do que em ajudar as pessoas e permitir-lhes o acesso aos sacramentos. E também a falta de compaixão gritante para com aqueles que a "economia que mata" descarta e trucida. Uma total insensibilidade aos problemas que afetam a casa comum, que é o planeta, e que castigam especialmente os mais pobres.
Ao nomear estes 13 novos cardeais, o Papa espera que eles, mais do que príncipes da Igreja, sejam homens compassivos que com ele se comprometam na reforma da Igreja e na atenção aos problemas que afligem o Mundo. Para isso conta com o apoio e a lealdade de D. Tolentino Mendonça.
*Padre