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Foi há 35 anos. Estava lá como jornalista. No dia 19 de março de 1989, o sino tocou a rebate em sete aldeias transmontanas (Água Revés, Canaveses, Cadouço, Fonte Mercê, Veiga de Lima, Emeres e Sta Maria de Emeres do concelho de Valpaços), e tal bastou para que centenas de habitantes, munidos das ferramentas que possuíam, avançassem para a Quinta do Ermeiro, onde, num ousado impulso de protesto, arrancaram milhares de eucaliptos que uma empresa de celulose havia plantado.
Foi um dos maiores protestos ambientais até então levados a cabo em Portugal. Meteu a cavalaria da GNR a avançar sobre o povo e muitas bastonadas sobre os mais resistentes. Para pôr eucaliptos, haviam arrancado dezenas de oliveiras, tão necessárias que são à economia local. Mas o povo ganhou. Vingou a divisa antiga: “Para cá do Marão, mandam os que cá estão”.
Assiste-se agora, ali perto, no concelho de Boticas, a movimentações similares de protesto contra a exploração de lítio pela multinacional Savannah. O povo de Covas do Barroso promete não vergar. Passados estes 35 anos, já não imagino a cavalaria da GNR a avançar sobre o povo, que persiste em não arredar pé com as armas que pode: manifestações, acampamentos hostis à empresa invasora, bloqueios às máquinas que invadem os terrenos, processos judiciais.
A convicção é a mesma. Quatro minas a céu aberto representarão um dos mais graves atentados ao ecossistema do território. Os impactos ambientais, desde a contaminação da água, poluição do ar e dos solos à devastação da área florestal, ameaçam a sobrevivência das populações. Paradoxalmente, numa zona Património Agrícola Mundial da UNESCO.
Tudo isto para satisfazer economias ricas, que enriquecerão ainda enquanto o povo empobrece. Um povo a quem não querem reconhecer sequer o direito de ter voz no seu próprio território.