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Em escassos meses de liderança do PSD, tive experiências enriquecedoras do ponto de vista humano e político. A principal talvez tenha sido a de provar que os que me quiseram substituir a qualquer preço não tinham razão. Eu afirmei então que esses meus companheiros de partido não tinham crédito político perante os portugueses. Alguns consideraram essa opinião uma manifestação de mero ressabiamento. Os eleitores, apesar da sua descrença no Governo Sócrates, comprovaram, sem margem para qualquer dúvida, a minha razão.
Para memória futura relembro que nesses oito meses foram feitas muitas e reformistas propostas: a defesa de uma progressiva harmonização fiscal ibérica; de um Polis Social que recuperasse de forma integrada todos os bairros sociais do país; da separação de águas entre medicina pública e medicina privada; do avanço de novas privatizações nas áreas do ambiente, portos e transportes públicos; da liquidação das golden share tuteladas pelo Estado; da afirmação de novas competências para as autarquias nos sectores da gestão do património cultural, educação, saúde e ambiente; do desenvolvimento competitivo do interior, do fim da publicidade na RTP e RDP, da elaboração de uma Nova Constituição que desse um novo fôlego à II República.
Ao mesmo tempo ainda houve energia par iniciar um processo de profunda alteração do funcionamento do partido - com a preparação de novos estatutos que dariam acrescidos poderes de decisão às bases partidárias, com a modernização das instalações e equipamentos centrais do partido, com o lançamento de grupos temáticos de reflexão envolvendo quadros de todo o País.
Finalmente, foi uma fase de afanosa e profícua oposição ao Governo: as críticas à política de saúde, ao encerramento de unidades diversas da Administração Pública no interior do país, à política decorrente da aprovação do falhado Pacto de Justiça, à intervenção do Estado no sistema financeiro - Ex. BCP, à parcialidade do Governador do Banco de Portugal, à falência da supervisão bancária, à recusa de elaborar um pacto de regime que definisse aprioridade dos grandes investimentos públicos.
Como corolário de tudo isto o PS desceu pela primeira vez para o patamar da maioria relativa, o ministro da Saúde caiu, a Assembleia da República avançou com uma bem sucedida comissão de inquérito à supervisão bancária, o Governo foi obrigado a prescindir de um inútil referendo ao Tratado de Lisboa. O líder do PSD passou a ser, em todas as sondagens, o dirigente mais popular das opsições.
Enquanto isto acontecia, um grupo minoritário de militantes e analistas fazia terrorismo permanente, impedindo desta forma que o essencial destas mensagens passasse para a opinião pública. Valia tudo, todos os dias. Da crítica à cor dos panos de fundo dos palcos ao regulamento de cobrança de quotas (houve quem denunciasse o perigo de cobrar 12 euros por ano se transformar num perigoso mecanismo de lavagem de dinheiro!), da denúncia do terrível crime de contratar a assessoria de uma agência de comunicação à "falta de decoro" de contrariar o princípio de que o líder do partido devia estar no Conselho de Estado, foi um massacre. Apimentado com excessos estalinistas, como os que fizeram com que um conhecido bloguista laranja virasse as setas do PSD ao contrário, e saudoso dos seus tempos de revolucionário de meia tigela, tivesse ameaçado afastar o líder à bomba.
Estas recordações não visam repristinar o passado numa lógica de vingança e rancor. Por mim esses episódios estão esquecidos. Esta revisão só serve para que afirme o que penso sobre o que deve ser o futuro.
Vença quem vença as eleições de 26 de Março terá que ser respeitado e apoiado. Portugal precisa de um grande PSD e todos os seus militantes devem mudar a sua conduta, adaptando-a a este desafio patriótico.
Como ex-líder será esse o meu comportamento. Terei uma natural opção de voto, tenho as minhas preferências, mas apoiarei sem reticências aquele que os militantes de base sufraguem para os dirigir.