Os fogos, sempre os fogos para nos atormentarem as férias de verão, nem que seja pelo incómodo passageiro das nuvens de fumo que ensombram os dias de praia. Há anos em que o problema parece estar resolvido, quase nem arde. Mas, na verdade, é só porque o lixo ainda está escondido debaixo do tapete. À espera do tempo certo, para nos lembrar que a destruição acontece por incúria geral.
A destruição é tanto consequência da incapacidade (ou incompetência) no combate ao fogo (numa definição lata, que começa muito antes de ser necessário mobilizar bombeiros e aviões), responsabilidade última do poder político de turno, seja ele qual for; como é consequência das alterações climáticas e do aquecimento global, responsabilidade de todos os que resistimos a prescindir de um consumismo desenfreado; como é consequência da catástrofe demográfica, económica e social que há décadas assola o país, com particular incidência no chamado interior, que na verdade corresponde a uns 80% do território, responsabilidade última de elites políticas provinciais e imperiais, que navegam ao sabor do cálculo político e não da vontade de reformar.
O que será melhor, um país multipolar, com poderes regionais que estão próximos das populações e dos seus problemas, que não sobreviverão politicamente se não forem capazes de garantir algum grau de sustentabilidade económica, social e ambiental aos seus territórios e gentes; ou um país unipolar, com o poder concentrado no Terreiro do Paço (tanto faz que no topo da pirâmide esteja um lisboeta como um espinhense), cujas políticas serão sempre orientadas para a faixa litoral entre Setúbal e Braga, porque é aí que vive a esmagadora maioria dos seus eleitores? A resposta é óbvia, mas não interessa para nada. O verão está a acabar, para o ano logo se vê.

