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Em 1936, as férias são reconhecidas como um direito pelo Governo francês e pela Organização Internacional do Trabalho. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem consagra que “toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas”. Contudo, para além das exclusões políticas que continuam a prevalecer em diversos países, temos de refletir sobre a sua real prática nas vivências do nosso próprio quotidiano coletivo e individual. Sobretudo, quando estamos a viver mais uma época de férias…
A este propósito, são elucidativos alguns constrangimentos que tendem a ser subalternizados. Desde logo, quanto à decorrência linear das férias relativamente ao trabalho, ou seja, deste como justificação daquelas.
Devido a razões sociológicas, consideramos aqui, como um exemplo, as atividades domésticas por, apesar de uma progressiva igualdade cívica dos géneros, continuarem a constituir uma “obrigação” sobretudo feminina sem um implícito direito ao repouso. O mesmo ocorre sistematicamente com os cuidadores informais, sobretudo quando enquadrados no âmbito dos deveres familiares.
A indexação das férias ao trabalho acarreta ainda, muitas vezes, a subalternização dos mais idosos, por não exercerem funções profissionais estandardizadas. Ignora-se então que o lazer é uma das condições da felicidade, um direito também reconhecido em prol do bem-estar humano. Estas discriminações acabam por reiterar, em tempo de férias, o abandono puro e simples dos mais vulneráveis: em hospitais, nos lares e até no contexto das famílias.
O custo de certas férias pode ser também um entrave à possibilidade das mesmas quando, devido a estereótipos de prestígio social, implicam endividamentos que comprometem os orçamentos familiares. Estereótipos que explicam sondagens a revelar que 30% dos portugueses não dizem a verdade sobre os seus destinos de férias.
Para que servem as férias? Para quem são as férias? As respostas podem parecer evidentes, mas apenas enquanto não pensarmos nas perguntas.