Corpo do artigo
Quando avaliamos os nossos políticos, fazemo-lo normalmente em função das suas propostas mais ou menos consumadas, ou seja, em função do bem público e, quantas vezes também, dos nossos projetos individuais. Ou seja, de uma maneira ou de outra, em função do bem como valor ético e como referencial para a ação política. Acontece, porém, que a política como ação exercida pelos seus protagonistas principais e até profissionais pressupõe prioritariamente, inclusive quando estes proclamam a assunção do bem, a conquista ou preservação do poder para o que necessitam de deter, entre outras, as estruturas e instrumentos organizativos do Estado de caráter social, económico e cultural.
Reivindicam-se assim, de uma forma nem sempre harmoniosa, as duas principais matrizes históricas da praxis política: a aristotélica, de pendor essencialmente ético, e a maquiavélica, que privilegia sobretudo a dimensão estratégica em que os fins da ação justificam, segundo critérios de eficácia, os meios utilizados. Na verdade, acontece com relativa frequência que a eficácia, visando prioritariamente o poder, tornando-se este o seu fim por excelência, acaba por esgotar a própria lógica da atividade política e, por inerência, o prestígio desta junto das populações.
Todavia, os políticos terão de compreender plenamente o que está em mudança nas nossas sociedades desde que a ideia de Felicidade Interna Bruta (FIB) foi instaurada pela ONU como um indicador que, complementando o caráter dominantemente económico do PIB, avalia em todos os países o bem-estar das populações. Para este efeito, são consideradas designadamente as seguintes categorias: bem-estar psicológico; saúde; uso do tempo no trabalho, lazer e educação; interação comunitária por ações de voluntariado, segurança e sentimento de pertença; ação cultural e desenvolvimento de capacidades artísticas; ausência de discriminações; proteção e relação saudável com o meio ambiente; governança no âmbito do sistema eleitoral, poder judicial e meios de comunicação; padrão de vida e qualidade habitacional.
Trata-se, no fundo, da reabilitação contemporânea do bem como valor ético cuja prossecução deve validar, sem quaisquer subterfúgios ou oportunismos, as estratégias da ação política.
*ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão