A formação, designadamente no Ensino Superior, é politicamente condicionada para moldar pessoas que se integrem na lógica dominante das nossas sociedades. Com essa finalidade procura-se dotá-las com os conhecimentos e as destrezas que as organizações procuram. Fala-se então de competências especializadas e, cada vez mais, de competências transversais, ou seja, de um domínio técnico e comportamental que se pretende sirva as exigências dos projetos e atividades laborais que cada um(a) enfrentará no seu quotidiano profissional.
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Acrescentam-se atualmente referenciais, como a sustentabilidade, a digitalização, a inovação e o empreendedorismo que, desprovidos da sua real autenticidade pedagógica, se tornam umas tantas pérolas retóricas que ocultam um conservadorismo travestido assim de modernismo.
Possivelmente, os compromissos subjacentes à contextualização da educação enquanto braço do poder não permitem que ela subsista de uma outra forma. Será mesmo necessário que, para a estabilidade das estruturas produtivas e sociais, não introduza perversões entrópicas, as quais, numa certa medida, asseguram bem-estar a um significativo número dos seus beneficiários.
Importa contudo perguntar se a educação, em prol do respeito pela projeção integral das capacidades de cada um(a) e da evolução das sociedades, não deverá poder ser também geradora de revolta e, no mínimo, nunca responsável pelo seu apagamento, por exemplo, através da promoção da prática da resiliência. Esta é, na verdade, um meio de integração do sobressalto, de superação das adversidades de modo a preservar-se um equilíbrio subjetivo dinâmico, noção esta inspirada na física onde designa a capacidade de um corpo reagir e conter as deformações sem sofrer uma deformação permanente...
Num ensino pobre em termos interdisciplinares, estas conceções, indexadas a ideologias políticas e de poder, pervertem o espaço pedagógico de abertura plena à inovação e à criatividade que são os expoentes máximos do exercício da liberdade, da dignidade e, portanto, da cidadania.
Se desatenta em relação a estes limiares críticos do humano e da humanidade, para que serve o ensino e as aprendizagens em geral e o Ensino Superior em particular?
*ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão