Completar 133 anos é um enorme feito, sobretudo para um jornal nascido e implantado no Porto. Longe dos centros de decisão e geograficamente distanciado dos principais grupos económicos, o JN provou que um periódico com uma linha editorial rigorosa e alternativa tem público.
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O Jornal de Notícias é um projeto jornalístico completo. Aí encontramos a agenda nacional, urdida por elites do poder de diversos campos; a atualidade internacional, estendida por geografias diversas conforme aquilo que reúne mais interesse público; e, acima de tudo, um noticiário regional que poderia ter mais impacto, se o país abandonasse o centralismo crónico de que sempre padeceu e encarasse o local como eixo estratégico de um desenvolvimento estrutural. Com uma imprensa regional a definhar e com os média generalistas a abandonarem progressivamente o país real, esta aposta do JN alarga o local a uma escala nacional. Também não se descura a opinião, feita por colunistas politicamente diversos e em equilíbrio de género.
Quem segue o JN através de plataformas digitais encontra um projeto bem desenvolvido, a conquistar cada vez mais visualizações, nomeadamente por parte de um público que tem abandonado os meios tradicionais. Em imagem e em palavra, o Jornal de Notícias tem conseguido renovar-se. No entanto, há obstáculos a transpor.
Hoje, o maior constrangimento é financeiro. Com as receitas publicitárias a baixarem drasticamente e com os cidadãos relutantes em pagar a informação que consomem, as empresas jornalísticas veem-se obrigadas a fazer uma espécie de quadratura do círculo: aumentar a qualidade e baixar os custos. Isso não é possível e exige políticas públicas mais eficazes para travar o enfraquecimento de projetos imprescindíveis para a democracia. Também é necessário fortalecer o local, sem descurar o nacional. Ou seja, as redações devem ser reforçadas para que o agendamento noticioso e os processos de construção jornalística sejam mais relevantes. É igualmente imperioso alargar o leque daqueles que fazem a opinião. É a esse nível que se mede, em parte, a influência de um jornal. E o JN precisa de continuar a reforçar esse lado, como o fez em tempos de pandemia, chamando para as suas páginas notáveis especialistas. Com públicos cada vez mais pendurados em ecrãs, impõe-se que se invista no digital, criando aí estratégias que alarguem o público consumidor de informação jornalística.
O JN é o exemplo de uma instituição centenária que já se teria extinguido se não soubesse reinventar-se. Hoje, o caminho do jornalismo é estreito, mas os eixos a partir dos quais se rasga sempre caminho continuam a ser os de sempre: a independência e o rigor.
Professora Associada com Agregação da UMinho