Escolhido por quem manda, nos quase dois anos que leva em funções, Vítor tem falhado quase todas as metas que lhe haviam, e se havia, estabelecido. Um ou outro êxito pontual não disfarçam um balanço francamente negativo que culminou com os péssimos resultados obtidos na semana que passou. Com dificuldade em admitir o erro próprio, distribui a culpa por tudo o que se passa à volta.
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Se pensa que estou a falar de Gaspar, lamento dizer-lho, errou. Pode parecer sina dos Vítores mas, no caso, estou a falar do Pereira. Por comparação com ele, até Gaspar parece ter sido bem-sucedido - pelo menos não tem desvalorizado os activos que tem para vender e, pelo que dizem, tem mesmo conseguido arrecadar mais do que se antecipava, o que não tem sido o caso do F.C. Porto. E, no caso de Gaspar, a envolvente condiciona de facto, mais do que a pouca sorte ou os erros dos árbitros. A diferença, a grande diferença, é que no FCP há um presidente em quem os sócios e simpatizantes ainda confiam e que costuma estar atento a estas situações. Sublinharia o "ainda" e o "costuma" - a lição de Cavaco Silva é de que os humores flutuam e podem mudar drasticamente, mesmo quando a diferença de carisma é abismal. Se não for invertida, a senda em que o FCP entrou poderá levá-lo-á à falência. Para o país há já quem fale de bancarrota como um resultado inexorável e não parece haver quem seja capaz de inverter o rumo. As avaliações "positivas" da troika são um eufemismo, uma vitória pírrica que já nem para animar o espírito servem. Assim um pouco como o FCP ganhar apenas a Taça da Liga. Os milhões que contam estão na Champions e a vitrina dos jogadores está nas competições internacionais e, nessas duas frentes, nos dois últimos anos, o FCP não fará parte da história. Para além dos milhões que a troika emprestou, com as condições que todos sabemos e sentimos, os milhões que contam terão de vir de investidores estrangeiros. Sem eles, a falência ou, pelo menos, o retrocesso em termos de condições de vida é inevitável por mais que a esquerda populista possa querer fazer renascer um discurso nacionalista, assim como ser campeão nacional servisse para alguma coisa se não se qualificasse para as competições europeias. No campeonato internacional para atracção de fundos, até agora, Portugal não só não tem visibilidade como não tem nada que o distinga.
As reformas estruturais, a melhoria da qualificação das pessoas, até mesmo a eventual descida do IRC ajudam, mas não fazem a diferença. Se tudo isso viesse junto com uma estratégia consensualizada, que garantisse estabilidade a quem se atrevesse a escolher-nos, a história mudaria. E aí voltamos ao papel do presidente.
O FCP tem uma história feita da capacidade de dar a volta a situações difíceis em que o saber, perspicácia e capacidade de decisão de Pinto da Costa fizeram a diferença. Por esta hora, os apoiantes do FCP estarão a interrogar-se como se irá sair desta, quem será o próximo treinador, que jogadores serão vendidos e comprados, como se irão equilibrar as contas. Confiam que haverá um novo dia. A situação no país é diferente. O regime não é presidencial e, além do mais, Cavaco Silva delapidou a imagem que tinha. Na política, porém, só a morte física é definitiva. Quantas vezes já renasceu Mário Soares? Não custa admitir que o presidente esteja atento e angustiado com a evolução da situação política, económica e social. Ninguém põe em causa que tenha vindo a desenvolver imensas diligências e contactos tendentes a garantir a paz social e a estabilidade política. Só que estes não são tempos apenas para jogos de bastidores. O segredo será a alma do negócio no futebol, não na política. Numa das situações mais difíceis que o país alguma vez experimentou, os portugueses sentem-se perdidos, desamparados.
Um pouco como estarão, hoje, os adeptos do FCP. Ambos querem um presidente actuante. Cavaco Silva deve aos portugueses uma actuação mais acutilante, frontal, estratégica que permita mobilizar vontades. Deve aos portugueses um esforço para um pacto que permita refundar o regime. A história não é feita de auto-elogios.