1. Causou agitação no mercado político a contratação, pelo primeiro-ministro, de uma personagem supostamente "fora da caixa". O anúncio foi recebido com tumulto, primeiro à Esquerda, depois à Direita.
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Vinha aí o lobo mau: um "paraministro" com mais poder do que um ministro; um "paraministro" que escapava ao controlo democrático. Já se percebeu que a ficção ultrapassou a realidade. António Costa e Silva, antigo gestor da Partex, empresa que tratava dos negócios petrolíferos da Gulbenkian, terá de escrever o guião para o Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030. Sugere-se que é independente e sem filiações partidárias.
Como se isso fosse garantia de competência ou ausência de laços com o poder. Facto seguro é que é um desconhecido da maioria dos portugueses. Talvez seja melhor deixá-lo fazer o seu trabalho, que terá de ser sufragado pelo Governo e pelo Parlamento. E lembrar que estão em jogo 50 mil milhões de euros da União Europeia. A fundo perdido. Mais do que sobressaltos com o "paraministro", canalize-se a energia para que não se chegue ao fim com a repetitiva sensação de que foi dinheiro perdido num saco sem fundo.
2. Foi talvez o mais importante instrumento de combate aos efeitos catastróficos da pandemia. Os portugueses fecharam-se em casa, o país parou e com ele as empresas. E os salários. Não fosse o lay-off e talvez a maioria dos 800 mil trabalhadores que dele beneficiaram já não tivesse emprego.
Mas já não estamos em quarentena. As empresas - micro, pequenas, médias ou grandes - têm de reabrir; os portugueses de regressar ao trabalho; e o corte nos salários tem de parar. Não é retórica, é facto: manter a perda de rendimentos é austeridade. Com os mesmos efeitos que os cortes de salários ou as subidas brutais do IRS no tempo da troika. É verdade que há empresas a quem ainda está vedado o regresso pleno à atividade. Que se mantenha para essas o lay-off, sem corte de salários. As restantes que se façam à estrada. Como sempre tem de fazer quem trabalha.
*Chefe de Redação