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O futuro parece estar a ser construído em cima de um conjunto de ameaças que pensávamos estarem ultrapassadas.
Depois de uma época de progressivo desarmamento nuclear, corrigindo a loucura que foi a corrida aos arsenais de destruição massiva, voltamos a ter notícias de instalação de mísseis nucleares, a intensificação da produção de armas, a banalização da guerra como algo que não conseguimos evitar.
Alguém que chegasse agora ao nosso planeta ficaria facilmente convencido que nos estamos a preparar para uma guerra de escala nunca vista. Títulos de notícias incluem expressões como terceira guerra mundial, as televisões trazem-nos imagens de bombardeamentos brutais, em vários pontos do globo a guerra é o dia a dia de milhões de seres humanos.
Obviamente que, perante atos de agressão, os povos e os estados têm o direito à defesa.
Na Europa o custo da guerra é bem conhecido. Foi, aliás, esse conhecimento que originou o que hoje conhecemos como União Europeia, um enorme projeto coletivo de criação de condições para a paz duradoura, para a proximidade dos povos e para o fomento do progresso económico e social dos europeus.
A União Europeia traduz um conceito muito avançado de respeito pelos direitos humanos, de valorização da cooperação e de promoção da paz. Sinto que estão a faltar as vozes que façam ecoar estes valores sobre o ruído ensurdecedor dos bombardeamentos.
Este é um tempo de agir e, simultaneamente, de parar para pensar. Este é um tempo de percebermos como chegámos aqui, com tantos ódios, com tantos seres humanos a serem inimigos de morte uns dos outros, com tantos estados a serem orientados para a guerra como desígnio inevitável.
Este é o tempo de acreditarmos no livre-arbítrio, ainda que se comecem a apresentar novas teorias que nos querem fazer resignar a um determinismo que não devemos aceitar.
Parar para pensar... um ato que deve começar por ser individual e que deve ser igualmente uma construção coletiva do desejo de um mundo que saiba evitar que a soma de todos os ódios nos conduza à destruição da Humanidade.
Temos pouco tempo porque, historicamente, sabemos que há um limite a partir do qual não conseguimos regressar à paz. A guerra, monstro insidioso e devorador, é insaciável depois de libertada.
Acreditemos em nós, em cada um de nós e em nós todos. Acreditemos que, a partir da Europa de que fazemos parte, podemos ser a força da razão, a força do humanismo, a força da paz.