<p>Algumas figuras do PSD estão compreensivelmente preocupadas com a utilização do termo Bloco Central. O acordo firmado entre Sócrates e Passos tende a ser vulgarizado sob aquele nome e isso desagrada aos sociais-democratas porque lhes tolhe uma parte dos movimentos que pretendem ter livres para se irem chegando ao poder, mas sobretudo porque os cola a uma governação a que não deixaram de apontar erros. O que o PSD quer que passe é o sentido de Estado de que o seu líder deu mostras ao pôr-se ao lado do Governo para a definição de medidas que sossegassem as instâncias internacionais, primeiro, e, numa segunda fase, para a definição de medidas que permitam uma saída para a crise.</p>
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As preocupações sociais-democratas têm razão de ser. Além de o termo Bloco Central traduzir muitas vezes não mais do que uma confluência de posições para satisfazer interesses do PSD e do PS, os sociais-democratas sabem que não podem correr o risco de deixar que se diluam e percam identidade as medidas que querem propor, quer as que o PS nunca apoiará quer, sobretudo, as que forem avançadas e possam recolher o acordo do PS. Afastado do poder há muito tempo, o PSD não vai perder a oportunidade de marcar diferenças para o PS, ainda que os tempos correntes possam gerar alguma concertação de posições "em nome do interesse nacional".
O PS, convenhamos, tem facilitado a tarefa ao PSD. Se à primeira aproximação do PSD, os socialistas responderam com idêntico espírito de serviço, aceitando a permuta de propostas e o esforço conjunto de combate à crise, a verdade é que de seguida o Governo socialista perdeu a oportunidade de, em nome dessa confluência com o PSD, recuar para onde os sociais democratas o queriam puxar e para onde, mais tarde ou mais cedo, acabará mesmo por recuar. Não ter aproveitado esta oportunidade para recuar nas grandes obras (e não apenas em pequenas, que afectam o interior) pode ter sido um erro. Hoje, o Governo sempre poderia fazê-lo em nome da aliança informal com o PSD. Fazendo-o mais tarde, como parece a muitos uma inevitabilidade, estará obviamente a dar um sinal de recuo, de correcção de um erro. E isso tem, obviamente, custos políticos.
Acresce que as medidas que o PS tem avançado sempre parecem reacção aos acontecimentos. Continuamos, como costuma dizer-se, a navegar à vista. Ora, se é certo que a crise tomou proporções que não eram previsíveis, não é menos certo que o Governo dispõe de um tempo (o tempo, que se prevê de pelo menos mais de um ano em que a Oposição não tentará derrubá-lo) em que seria (será) natural que avance com medidas de fundo que cortem onde é preciso cortar (na despesa, claro) e que lancem as bases possíveis para que o país possa produzir mais e melhor.
O Governo, que perdeu a maioria nas últimas eleições, pareceu titubeante nos dias seguintes à aproximação de Passos Coelho. Recém-eleito, Passos Coelho já pôs o PSD a subir nas sondagens e à frente do PS. Convém não duvidar nem menosprezar as capacidades de regeneração de Sócrates. Mas até por isso é bom que todos olhemos para Passos e Sócrates não como aliados, mas apenas como parceiros em tempo de crise.