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Parem de falar do SIRESP... ou corremos o risco de nunca perceber o que raio se passa com a organização do ataque aos incêndios florestais em Portugal.
Ao estimular uma luta político-partidária que apenas rende discursos inflamados a gregos e a troianos estamos simplesmente a simplificar a tarefa de quem nos deve explicações.
Ou, pior ainda, estamos todos a mandar mais uma vez para debaixo do tapete a responsabilidade coletiva de que não podemos abdicar, neste como em todos os outros temas.
Ou alguém acredita que a maioria das pessoas que perdeu a vida nos incêndios de Pedrógão não a teria perdido se o SIRESP funcionasse alegadamente bem?
As pessoas morreram porque os responsáveis pela coordenação daquele incêndio específico não conseguiram detetar as vias de comunicação que deviam ter sido fechadas imediatamente e porque nunca mais nos convencemos que o nosso país está polvilhado de pequenas povoações dispersas com meia dúzia de habitantes envelhecidos para as quais não está programado um ágil e eficaz sistema de resgate - por doença, por chuvas, por incêndios, seja pelo que for...
A floresta ardeu porque desde os anos 80 que o país florestal é uma pira à espera do fogo.
Tapar tudo isto com uma sigla é revoltante, porque é pouco sério.
Ainda por cima não vamos saber nunca se o SIRESP é bom ou mau porque, pura e simplesmente, ninguém nos explica como funciona ou como foi contratado.
Falam-me em postos de transmissão, telecomunicações, satélites e antenas móveis?
Sobre estas últimas ouvi, por exemplo, dizer que uma estaria inamovível no Parlamento para servir de backup ao sistema de telecomunicações dos senhores deputados? Será verdade?
E antes do SIRESP como é que tudo funcionava? É verdade que antes do SIRESP cada corporação de bombeiros contratava a sua solução de telecomunicações?
Hão de ser perguntas tontas, sem resposta. Mas muito pior é esta vergonha de brincar às explicações que nenhum partido, Governo ou Oposição parece parece querer largar.
Queremos que se tente perceber o que se passou nem que seja para chegarmos à conclusão de que não somos capazes de descobrir.
Queremos começar do zero se for preciso.
Não podemos querer é fingir que já descobrimos porque dá jeito encontrar um bode expiatório, seja ele o Governo ou a Altice.
ANALISTA FINANCEIRA