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O modelo energético que tem sustentado o processo de industrialização é o principal responsável pelo aumento considerável da emissão de gases com efeitos de estufa. Atualmente, cerca de 80% da energia mundial provém de combustíveis fósseis, lançando na atmosfera cerca de 34 mil milhões de toneladas de CO2 todos os anos. As consequências climatéricas são evidentes. Desde a época pré-industrial até ao presente, a temperatura média do planeta aumentou quase 1ºC. Até 2100, se nada for feito, esse aumento pode ultrapassar os 4ºC. As consequências serão dramáticas: aumento do nível das águas do mar, implicando a submersão de muitos territórios, ondas de calor e secas, inundações, etc. Milhões de pessoas serão afetadas. A deterioração da qualidade do ar terá consequências na saúde pública. Vários estudos alertam para consequências económicas significativas no crescimento e na distribuição da riqueza mundial.
Os cientistas alertam para a necessidade de uma urgente descarbonização do nosso modelo energético para impedir os efeitos catastróficos das alterações climáticas. Este sentido de urgência esteve certamente presente na conferência das Nações Unidas sobre o clima - COP 21 - que terminou em Paris no passado fim de semana. Os 195 países participantes chegaram a um acordo histórico que marcará um avanço significativo nos esforços que a humanidade irá desenvolver para vencer esta ameaça das alterações climáticas. O compromisso visa um aquecimento global até 2100 inferior a 2ºC, compromete os países a acelerarem a redução das emissões e a reverem as suas metas de 5 em 5 anos. Houve acordo quanto ao apoio financeiro a dar aos países em desenvolvimento para que promovam soluções de baixo carbono. Muito importante neste acordo de Paris é o facto de, pela primeira vez desde 1992, os EUA, a China e a UE estarem alinhados nesta matéria. No seio da UE, Portugal tem sido um dos países na linha da frente destes esforços, designadamente na promoção das energias renováveis.
Há quem duvide dos resultados que possam vir a ser alcançados alegando que as metas de redução de emissões até agora apresentadas são insuficientes para atingir os objetivos pretendidos. Daí que o grande desafio após a COP 21 seja a efetiva implementação do acordo alcançado. Mas neste momento impõe-se uma nota de esperança. Como refere Jeffrey Sachs, conselheiro económico do secretário-geral das Nações Unidas, é tempo de recordar o que disse o presidente Kennedy a propósito do acordo de não-proliferação de armas nucleares: "ao definirmos o nosso objetivo de forma mais clara, ao fazer com que ele apareça mais alcançável e menos remoto, ajudamos toda a gente a vê-lo, a ter esperança nele e a mover-se irresistivelmente para ele".
*ECONOMISTA