Façamos o exercício de imaginar uma paródia política alternativa à realidade (ainda que haja o risco sério de boa parte dos leitores achar que a realidade política é uma paródia, o que estraga o efeito pretendido). Façamos, portanto, o exercício, por idiota ou inverosímil que pareça.
Corpo do artigo
Assim, imagine que as próximas legislativas são a quarta eleição para a Assembleia da República num período de quatro anos. Não se assusta facilmente? Acrescentemos alguns condimentos. Imagine que será a quarta vez, em quatro anos, que António Costa aparece como candidato do PS. Ou que Passos Coelho se manteve como candidato da Direita para além de 2015, que foi de novo a votos, para só então ser substituído por Rio, que faz agora, também ele, uma segunda tentativa de chegar ao poder. Ou que Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, depois de concorreram em separado, se coligaram nas duas eleições seguintes e prometem uma terceira tentativa a dois, com o Bloco como principal parceiro. Ou que a Iniciativa Liberal (nesta paródia seria inútil usar o nome do líder, Carlos Guimarães Pinto, ninguém o reconheceria) anda há quatro anos com resultados acima dos 10% por repetir a ideia tão original de que é preciso baixar os impostos. Ou, finalmente, que depois de um cisma à Direita, o especialista em gritaria futebolística, André Ventura, líder do Chega, chegou ao Parlamento, graças ao discurso securitário, xenófobo e misógino.
Não é preciso assustar-se com todas, basta que alguma das premissas lhe tire o sono. E fique a saber que, não sendo esta a realidade em Portugal, é a paródia, ou pesadelo, que enfrentam os "nossos irmãos" do outro lado da fronteira. Troque-se Costa por Sánchez (PSOE), Passos por Rajoy e Rio por Casado (PP), Catarina por Iglesias (Podemos), Jerónimo por Garzon (Esquerda Unida), Pinto por Rivera (Cidadãos) e Ventura por Abascal (Vox), e têm os espanhóis o caldo entornado pela quarta vez em quatro anos. Com eleições europeias, autárquicas e autonómicas pelo meio.
Há quatro anos que nenhum dos blocos consegue uma maioria que lhes permita governar. Não são capazes, sequer, de gizar um acordo parlamentar. Uma geringonça. Nos dois primeiros ensaios (dezembro de 2015 e junho de 2016) ganhou a Direita. Mas o PP, contaminado pela corrupção, foi tratado como um leproso, e o PSOE acabou por formar um Governo precário. Ao terceiro ato, ganhou a Esquerda. Mas nem os socialistas aceitam partilhar o poder, nem o Podemos abdica do seu quinhão. O mais inusitado? As últimas sondagens diziam que, se houver eleições, tudo ficaria na mesma. Note-se, no entanto, que isso foi antes de os espanhóis saberem que os seus políticos os iam obrigar a voltar à mesa de voto. Pela quarta vez em quatro anos. Vai uma aposta que não vai ficar tudo na mesma?
*CHEFE DE REDAÇÃO