Com o tempo, tem-se consolidado a ideia de que a economia mundial se encaminha para um período, que pode ser longo, de reduzido crescimento, com os países mais desenvolvidos em recessão ou estagnação. Face a estas previsões, é natural que as pessoas se tentem agarrar a quem lhes dê alguma esperança. Para além dos inequívocos méritos próprios, e do significado histórico que tem a sua eleição, Obama foi beneficiado por estas circunstâncias. É, por isso, muito interessante a forma como, logo depois de ser eleito, Obama começou a baixar as expectativas daqueles que já o viam como a nova encarnação do Salvador.
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Mantendo o registo da mudança que há-de vir, garantiu apenas isso. Que a mudança ocorreria. Talvez não nos tempos mais próximos, nem sequer durante o seu mandato. E não sem muitos sacrifícios e dificuldades. As suas palavras de conforto, e as suas preocupações prioritárias, foram para os mais desfavorecidos, "atropelados" por esta crise. Só por si, já uma ruptura com as políticas da Administração Bush.
O que de concreto vai fazer está para ver. No domínio da chamada economia real, espera-se que não ouça as vozes dos grupos de pressão que defendem o proteccionismo das indústrias americanas. Se assim for, o processo de recuperação da economia mundial será, decerto, muito lento. Olhe-se para a história e veja-se o que aconteceu há quase 100 anos.
Obama tem consigo um capital de esperança. Se o conseguir converter em confiança, palavra mágica para os mercados, talvez a América possa ser o motor de que o Mundo volta a precisar. A forma exemplar como o seu adversário se posicionou logo na noite das eleições facilita. Essa maneira de ser americana, em que o patriotismo se conjuga com pragmatismo, é um grande trunfo, dando-lhes uma capacidade de decisão e execução sem paralelo na Europa. É verdade que as dificuldades aguçam o engenho. E que os europeus foram determinados e céleres a tomar as medidas que se impunham para salvaguardar a confiança no sistema financeiro. Já na política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) tem evidenciado dificuldade em entender a actual situação. Embora as instituições económicas europeias favoreçam a rigidez de preços, dificultando a respectiva descida, não parece que as tensões inflacionistas possam reaparecer nos próximos tempos. Assim, o BCE tem sido sucessivamente ultrapassado pelos factos, reagindo tardiamente, constituindo um factor penalizador da economia europeia, matéria na qual também a Comissão Europeia (CE) demora a dar sinais claros. Manter a fixação nos 3% de défice, sem sequer tolerar os desvios decorrentes dos chamados estabilizadores automáticos, isto é, despesas como o subsídio de desemprego que aumentam em conjunturas desfavoráveis, é duplamente insuficiente. Quando um conjunto alargado de economistas, incluindo vozes mais liberais, sugerem a subalternização do défice, a CE deveria saber distinguir entre uma despesa com carácter recorrente e uma medida de política contracíclica transitória merecedora de outra tolerância. A situação não está para hesitações. Os governos têm de saber qual a margem de manobra disponível. Ao andarem a reboque dos acontecimentos, o BCE e a CE arriscam-se a fazer parte do problema quando deveriam ser parte da solução.