<p>Primeiro, constata-se o que salta à vista: a "burrice" política de estragar uma festa que até nem estava a correr mal ao PSD com uma vingançazinha servida fria pelo mentor do congresso, Pedro Santana Lopes. Não ocorreu a nenhuma das almas sociais-democratas reunidas em Mafra que calar por decreto a dissidência é - numa altura em que tanto se queixam da ausência de liberdade de expressão - oferecer em bandeja de prata argumentos ao adversário. Os quatro candidatos, caladinhos quando a coisa esteve em discussão - esteve mesmo? - mostraram-se muito loquazes a demarcar-se do suposto devaneio. Um deles até se propôs expurgar a maldita norma, na primeira oportunidade… se tiver oportunidade.</p>
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Depois, dá-se conta do oportunismo político: sem pensar duas vezes, Francisco Assis quis logo levar ao Parlamento a "lei da rolha" inventada na reunião magna do PSD. Esqueceu-se o líder parlamentar do PS de consultar previamente os estatutos do seu próprio partido. Se tivesse lido o capítulo disciplinar, perceberia que está lá escrito, preto no branco, que entre as faltas graves, susceptíveis de determinar a expulsão de militantes, figura o desrespeito "à linha política" do partido. Isto é: o PSD não inovou, copiou. E, pelo menos, fixou fronteiras temporais. Só se pode dizer mal da direcção até 60 dias dos actos eleitorais.
Para lá da espuma, a questão de fundo merece reflexão. Será que a súbita adesão a um centralismo democrático "mitigado" constitui uma homenagem póstuma do PSD a Álvaro Cunhal, que despachou vários dissidentes do PCP sob o aplauso unânime dos adversários (Mário Lino, que anda por aí, pode contar a sua história)? Ou tem razão Santana Lopes, ainda com cicatrizes das facadas que os companheiros deram ao "menino guerreiro", e é mesmo necessário pôr ordem na casa?
Entendamo-nos: os partidos não são tertúlias de café, são máquinas de conquista do poder. Por mais que consagrem a liberdade de opinião - o PS até admite o direito de tendência - têm de estar oleados, se querem lá chegar. Ainda que fomentem a discussão, necessitam de unidade, servida por instrumentos como a disciplina partidária. Para, na hora da verdade, falarem a uma só voz, sob pena de darem ao eleitorado uma imagem de fragilidade que corrói a confiança. Uma vez traçadas as opções internas, a unidade deveria ser espontânea, para não dizer natural. Mas todos sabemos que onde não há sanções crescem tentações...