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Foi com um sentimento de tristeza e nostalgia que assisti à partida, pela aplicação natural lei da vida, do antigo chanceler alemão Helmut Kohl, que sendo alguém que aos 15 anos combateu como jovem soldado na fase final da Segunda Grande Guerra, foi responsável pelo Governo alemão durante 16 anos, entre 1982 e 1998, período durante o qual muito fez de positivo pelo nosso futuro comum.
A este senhor devo o momento único vivido com a queda do Muro de Berlim, símbolo dramático das sequelas da Grande Guerra, em que apesar de todas as dificuldades que se seguiram, todos reconhecemos uma viragem decisiva na consolidação da coesão social e política do espaço da União Europeia. A abertura e expansão posterior à entrada de muitos países do antigo Bloco de Leste foi a sequência lógica de quem acreditou e lutou durante anos pelo sonho de uma Europa grandiosa. Em conjunto com outro grande senhor, Jacques Delors, que praticamente durante a mesma fase temporal presidiu à Comissão Europeia, foram responsáveis pelo enorme aumento dos fundos estruturais destinados à promoção da convergência da riqueza entre os países da UE, com o impacto visível por exemplo em Portugal, que mesmo assumindo alguns erros cometidos em várias conjunturas políticas não podemos deixar de reconhecer.
É nestes tempos difíceis que vivemos que temos de olhar para estes símbolos, para a sua luta, continuando a trabalhar pelos ideais coletivos que nos transmitiram como valores sagrados, nunca nos deixando esmorecer por quem de forma cobarde e traiçoeira nos tenta ferir nessa convicção. Porque se nos deixamos debilitar ficamos mais vulneráveis às vontades da demagogia, que se promove e alimenta dos medos e fragilidades. É sempre mais fácil apontar o que está mal e acenar com a erradicação de culpados fáceis, como forma simples de resolver problemas sociais bem complexos. A história mostra-nos que se caímos na tentação de trilhar esses caminhos supostamente eficazes, só agudizamos sensibilidades e criamos situações ainda mais explosivas, com resultados de dimensão negativa imprevisível.
Não podemos por isso vacilar. Temos de continuar a trabalhar sem receios pelo futuro da União Europeia, com a mesma determinação que aqueles que como Helmut Kohl viveram e superaram a tragédia de uma guerra, nos ensinaram a acreditar num espaço territorial único no Mundo para se viver.
Temos de continuar a trabalhar sem receios pelo futuro da União Europeia, com a mesma determinação que aqueles que como Helmut Kohl viveram e superaram a tragédia de uma guerra, nos ensinaram a acreditar num espaço territorial único no Mundo para se viver.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO